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Agenda do Samba e Choro

Trem Bandeirante: Campinas-Brasília
A reinauguração (1981)

Empurrado pelo segundo choque do petróleo, decorrente da guerra Irã-Iraque, o governo (1979-1984) do presidente Figueiredo retomou algumas iniciativas do governo (1974-1979) Geisel, que já vinham perdendo força: Proálcool (Programa Nacional do Álcool), fiscalização nas estradas (velocidade, regulagem dos motores diesel) e... reimplantação de alguns trens de passageiros.

Tomadas as providências para recolocar nos trilhos o Trem Bandeirante, entre Campinas (SP) e Brasília, o serviço foi reinaugurado, com grande alarde na imprensa, por uma Viagem Especial — excepcionalmente, desde São Paulo, capital — nos dias 27 e 28 de abril de 1981.

Tal como 13 anos antes, forte esquema de segurança — destacamentos militares e guarnições de polícia — guardou pontes, viadutos e passagens de nível; ferroviários percorriam as linhas de carro e de bicicleta para prevenir quaisquer irregularidades; helicópteros sobrevoavam os trechos à medida em que o trem avançava. A emissora brasiliense da rádio Capital (São Paulo) transmitia flashes ao vivo.

   Programa do trem especial Bandeirante

Programação

O presidente Figueiredo incluiu-se fora. Viajaram o ministro dos Transportes, engº Eliseu Resende; os governadores de São Paulo (Paulo Maluf), Minas Gerais (Francelino Pereira) e Goiás (Ary Valadão); os presidentes da RFFSA (engº militar Carlos Aloysio Weber) e da Fepasa (Chafic Jacob); diretor do DOC do Ministério do Exército (gen. Ivan de Souza Mendes); parlamentares; e jornalistas de inúmeras empresas: Jornal de Brasília, Correio Braziliense, Empresa Brasileira de Notícias, Estado de Minas, rádios Alvorada, Gaúcha e Planalto, TV Nacional, O Globo, Isto É, Veja, Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, TV Cultura, TV Bandeirantes, Correio Popular (Campinas), Rádio Capital (Brasília), Jornal do Brasil e sucursais cariocas da Folha e do Estadão — um evento, portanto, bem documentado.

A programação previa entrevista à imprensa (dia 27, segunda-feira, 12h30) e partida (13h) da Estação da Luz, em trem da RFFSA, para Campinas, onde haveria entrevista à imprensa local e mudança de composição, partindo às 14h50 para Ribeirão Preto, onde haveria "contato com autoridades locais" — solenidades — e partida às 20h15 para Uberaba. Jantar a bordo. O governador de Minas Gerais embarcaria em Uberaba, partindo-se às 23h23 para Uberlândia — mais "contato com autoridades locais" (1h34) e partida (1h54) para Araguari.

A locomotiva seria substituída em Araguari (2h55), passando o trem por Goiandira (GO) às 4h35. Em Ipameri (5h30) embarcaria o governador de Goiás. Café da manhã a bordo, às 8h00.

A chegada à Estação de Brasília estava prevista para 11h30, quando o trem seria recepcionado pelo presidente da República, gen. João Figueiredo, e pelo governador do Distrito Federal, cel. Aimée Lamaison.

A cerimônia culminaria na "inauguração" do "Setor Ferroviário de Passageiros da Estação Rodo-Ferroviária de Brasília" — descerramento da placa alusiva ao evento e palavras do ministro dos Transportes.

Composição

De acordo com o Programa, a composição de cerca de 520 toneladas seria tracionada por 2 locomotivas e seria formada por 14 carros, na seguinte ordem:

  • 2 locomotivas
  • 1 carro bagagem (RFFSA)
  • 1 carro poltrona (RFFSA)
  • 2 carros poltrona-leito (RFFSA)
  • 2 carros dormitório (RFFSA)
  • 2 carros restaurante (RFFSA)
  • 2 carros da administração (RFFSA)
  • 1 carro dormitório (Fepasa)
  • 1 carro gerador (Fepasa)
  • 1 carro cabine (Fepasa)
  • 1 carro salão (Fepasa)

Viagens regulares: 8-maio-1981

Encerradas as cerimônias, o Programa anunciava para 8 de maio a retomada das viagens regulares do Trem Bandeirante, entre Campinas e Brasília — "inicialmente" com freqüência semanal, saindo de Brasília às sextas-feiras às 20h50, com chegada em Campinas às 17h50 de sábado; e partidas de Brasília às 12h de domingo, chegando a Brasília nas segundas-feiras às 8h30.

A primeira viagem seria uma sexta-feira, e partiria de Brasília.

«Visando proporcionar aos passageiros uma viagem agradável, o Bandeirante, formado por carros de aço carbono, que foram totalmente reparados e modernizados, contará com a seguinte composição:

  • 1 BC - Correio e Bagagem
  • 2 P - Poltrona
  • 1 R - Restaurante
  • 1 DP - Poltrona-leito
  • 2 DC - Dormitório

Lotação do trem:

  • 112 poltronas
  • 24 poltronas-leito
  • 32 leitos»
  

"Dados sintéticos sobre
o trecho Campinas-Brasília"

«A chegada do primeiro trem a Brasília, na estação provisória de Bernardo Sayão, à margem do Núcleo Bandeirante, no dia 21 de abril de 1968, coincidindo com o 8º aniversário da nova capital da República, verificou-se em clima dos mais festivos de intensa emoção cívica. Duas composições das antigas Viação Férrea Centro-Oeste (RFFSA) e da Estrada de Ferro Mogiana (Fepasa) efetivaram a integração física do Distrito Federal com o resto do Brasil.

Três ferrovias federais e duas paulistas se conjugaram para assegurar a interligação perfeita, com uma única baldeação por qualquer dos dois percursos então possíveis: via Barra Mansa (1.546 km) e via Campinas (1.749 km), cumprindo sem qualquer anormalidade o trajeto previsto.

Em 1965, após vencer sucessivas dificuldades, os trabalhos de construção da superestrutura e complementação da infra-estrutura passaram ao 2º Batalhão Ferroviário, o Batalhão Mauá, terminando o serviço de assentamento da via permanente com a chegada da ponta dos trilhos ao destino, a 17 quilômetros do Plano Piloto, em março de 1967, restando apenas concluir as obras de superestrutura.

A extensão do trecho ferroviário Campinas-Brasília, componente do Tronco Sul, alcança 1.059 km. O percurso Campinas-Araguari, da Fepasa, tem 648 km de distância e a ligação Araguari-Brasília, da RFFSA, 411 quilômetros.

Após a inauguração do sub-trecho Pires do Rio - Brasília, em 1966, no governo do então presidente Castelo Branco, vários melhoramentos passaram a ser introduzidos no traçado, através da construção de diversas variantes, que substituíram mais de 80% da via primitiva, a mais recente delas em operação desde 22 de março de 1980, entre Araguari e Goiandira, também construída pelo 2º Batalhão Ferroviário.

As condições técnicas da linha atual são bastante avançadas, permitindo velocidade de até 100 km/h em alguns segmentos.

Cortando a progressista região do Triângulo Mineiro, a linha férrea atende uma das regiões mais dinâmicas do país e permite a ligação da capital federal à maior metrópole brasileira.

É importante salientar que, em se tratando de um dos trechos de maior densidade de tráfego da malha de bitola métrica brasileira, por onde são escoados os derivados de petróleo procedentes da Refinaria de Paulínia, álcool e produtos agrícolas, com fluxos crescentes, sua importância será cada vez maior dentro do atual quadro energético. Isto justifica os estudos para eletrificar o percurso entre Uberaba e Santos, dentro do Programa do Corredor de Exportação que demanda o maior porto da América Latina.

Após a conclusão dos serviços que estão sendo realizados em feixas de terrenos pertencentes à Fepasa e no sub-trecho da RFFSA que se estende de Roncador Novo a Brasília, a ligação será uma das mais modernas de toda a malha ferroviária brasileira, atendendo a três estados brasileiros — São Paulo, Minas Gerais e Goiás — além da capital da República.

Voltada prioritariamente para o transporte de cargas, esse trajeto, de acordo com a filosofia ditada pelo exmº sr. ministro dos Transportes, Eliseu Resende, possibilitará a oferta, a partir do próximo dia 8 de maio, de mais uma alternativa para o serviço de passageiros, principal forma de divulgar a ferrovia junto à opinião pública em geral».

     

A composição regular de Campinas (aos domingos) para Brasília trocaria equipagem em Ribeirão Preto (17h05~17h15); abastecimento dos carros em Uberaba (20h03~20h23); troca de locomotiva em Araguari (23h35~23h55); e nova troca de equipagem em Ipameri (2h20~2h25).

Em Campinas haveria conexão com o trem de prefixo RJP.3, que saía de São Paulo (Estação da Luz) às 10h05, com chegada a Campinas prevista para 11h25.

A composição regular de Brasília (às sextas-feiras) para Campinas teria abastecimento de carros e troca de locomotiva em Araguari (5h25~5h45); abastecimento dos carros em Uberaba (8h57~9h17); e troca de equipagem em Ribeirão Preto (12h05~12h15).

Em Campinas haveria conexão com o trem de prefixo DJP.6, que partia às 18h, com chegada a São Paulo prevista para as 19h20.

A poltrona comum (inteira e meia-passagem) seria cobrada conforme os trechos, variando de Cr$ 110,00 / 60,00 (Uberlândia-Araguari) até Cr$ 1.070,00 / 540,00 (Campinas-Brasília).

A cabine completa (Cr$ 5.040,00), leito inferior (Cr$ 2.620,00), leito superior (Cr$ 2.420,00) e a poltrona-leito (Cr$ 2.020,00) seriam cobrados pela viagem completa.

  

Na prática, a teoria foi outra

O comprador de um dos leitos podia, na verdade, vetar a venda do outro leito a um desconhecido. Na prática, portanto, podia exigir a cabine.

Não havia integração com agências de viagens. As passagens só podiam ser adquiridas no guiche da estação, distante de tudo — a partir das 8h de cada segunda-feira (hora de estar chegando ao trabalho), e apenas para a sexta-feira da mesma semana. Nenhum sistema de reserva — apenas venda, no ato. Cheque ou cartão de crédito, fora de cogitação.

[ Como ainda não havia computadores on-line, é difícil imaginar se (ou como) se poderia articular a venda de cabines em diferentes cidades ao longo do percurso — exceto mediante onerosas ligações telefônicas interurbanas (em empresas de ônibus este era o procedimento, mas eram poucos casos, no total). Talvez cada estação tivesse uma quota, rígida, independente das vendas por outras estações? Ou, mais provavelmente, só se vendessem passagens intermediárias no momento do embarque, à vista da real lotação do trem. Dez anos depois, em 1990, empresas aéreas dispunham de um sistema eficiente, embora primitivo, permitindo vendas e reservas em múltiplos locais. ]

A fila formava-se logo cedo, na segunda-feira, diante do guichê de Brasília — e quando este abria, era comum a lotação já estar esgotada.

Mais de uma vez, quando a revolta pelo absurdo chegava à imprensa, a presidência da RFFSA determinou a inclusão de carros adicionais à composição, ou a disponibilização de um segundo trem semanal, contra-noticiando em seguida o atendimento à demanda crescente.

Pessoas embarcadas em Brasília, porém, comentavam na volta que o trem havia seguido quase vazio, ou com meia lotação, se tanto — já agora, sem escândalo ou notícia.

A explicação mais comum — e nunca oficial — indicava a ocorrência de reservas (proibidas), por telefone, da parte de funcionários acima de determinado escalão, dos ministérios dos Transportes, Fazenda, Planejamento etc. — que não convinha contrariar — e que, em geral, acabavam não resultando em venda ou embarque efetivos.

A lotação chegou ao seu ponto mais baixo nas semanas seguintes ao Plano Collor I — o confisco que esvaziou trens, cinemas etc. em todo o Brasil, em 1990, por absoluta inexistência de dinheiro vivo nas mãos da população — mas o Bandeirante ainda sobreviveu por mais dois anos.

  

Registros

Fevereiro-1986

«A procura de passagens (...) atingiu as raias do paroxismo na segunda quinzena de dezembro, gerando tumultos e discussões diante do guichê. (...)

Rapidamente a RFFSA duplicou a composição, incorporando mais 7 carros (inclusive 1 emprestado da Fepasa) aos 9 que a compõem normalmente, e dobrou a freqüência, com duas viagens semanais, saindo de Brasília às terças e sextas, às 20h45.

Este esquema funcionará experimentalmente até o próximo dia 28 de fevereiro, podendo ser efetivado se houver procura» [Centro-Oeste nº 13].

Abril-1991

«Entre os trens de passageiros ameaçados, encontram-se o Vera Cruz, o Santa Cruz e o Bandeirante, burocraticamente descritos como trens de interior. (...)

O caso do Bandeirante (Brasília - Campinas), está sendo apresentado sob o nome "Brasília - Araguari, MG" — um jogo de palavras (...)» [Centro-Oeste DC-11-12].

Julho-1991

A viagem no trem Bandeirante, de Brasília a Ribeirão Preto, foi ótima. O garçom é ferreomodelista e aproveita as viagens de pouco movimento para fazer a manutenção de suas 6 locos Frateschi [Luiz Octávio, Centro-Oeste DC-17].

Agosto-1992

Pois é, o nosso Bandeirante (Brasília-Campinas) também se foi. Este foi mais um "presente" que ganhamos da RFFSA. Com isso, a Fepasa mudou o horário de seu trem para Araguari. O expresso, agora, parte de Campinas às 10h55, de segunda a domingo [Evaldo Alves, Centro-Oeste nº 69].

A chegada do trem a Brasília
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