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Ferrovia Pirapora - Brasília -
EFCB
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Flavio R. Cavalcanti - Nov. 2013
De Pirapora a Belém do Pará
No Relatório da
EFCB
referente ao ano de 1911, Paulo de Frontin detalhava, — até o número das pontes e a extensão de cada uma, — o percurso a ser seguido pela ferrovia, conforme levantamento de campo:
De Pirapora, a linha atravessa, a jusante
da cachoeira do mesmo nome, o rio São Francisco, com uma
ponte de 420 metros, galga o divisor das águas deste rio
e do seu afluente o Paracatu, o qual é atravessado acima
da cachoeira Grande, segue pelo vale deste rio até a barra
do rio Preto, por cujo vale se desenvolve a fim de galgar o planalto
central, atingindo aí as proximidades da cidade de Formosa,
situada no limite leste do território demarcado para a futura
capital da República.
Perto de Formosa alcança a linha as cabeceiras
do rio Paranã e por este vale até a sua barra no Tocantins
passando na cidade de Palma [Paranã].
Em seguida acompanha o traçado a margem
direita do rio Tocantins até Imperatriz, passando em Porto
Nacional, Carolina e Porto Franco da Boa Vista.
De Imperatriz a linha vence o divisor entre o rio
Tocantins e as cabeceiras dos rios Gurupi e Capim, seguindo pelo
vale deste e do Guamá até a cidade de Belém
do Pará.
As condições técnicas fixadas
nas instruções foram de 0,5% como rampa máxima,
de 500 metros como raio mínimo e, excepcionalmente, 1% como
rampa máxima e 300 metros como raio mínimo, nas zonas
de divisa de águas. (…)
Aceita a bitola larga ou a normal, deverá
ser alargada a bitola de Belo Horizonte a Pirapora, na extensão
de cerca de 400 quilômetros a fim de se evitar baldeações.
Na linha tronco deverá ligar-se a Estrada
de Ferro São Luís a Caxias, prolongada a Carolina
ou a Porto Franco da Boa Vista.
Deverá também ser estudado um ramal
de Palmas [Paranã]
a Barreiras, ponto terminal da navegação do rio Grande,
afluente do São Francisco, a fim de dar comunicação
com a cidade e porto da Bahia, visando outrossim ser a construção
atacada, além dos dois pontos extremos, a partir de Palma
para o norte e para o sul.
Igualmente deverá ser estudado um ramal
para Santa Filomena, ligando assim a linha tronco com a navegação
do rio Parnaíba. (…)
Resolvida pelo governo a forma de construir
este grandioso prolongamento, para o qual está autorizado
pelo Congresso Nacional, convirá ser a construção
levada a efeito de modo a estar concluída a fim de ser inaugurado
o tráfego em 7 de setembro de 1922, comemorando assim a gloriosa
data do 1º centenário da independência do Brasil [in Prolongamento da linha tronco da Estrada de Ferro Central do Brasil como ligação norte-sul do país. Joaquim Ayres da Silva.
Revista Ferroviária, Julho 1961, p. 43-45].
O otimismo de Frontin, quanto ao cronograma de 10 anos, compartilhado pelo governo e pelo Congresso, quanto à decisão de fazer o investimento, deve ser visto no contexto das receitas da época, obtidas com a exportação de borracha.
A participação da borracha nas exportações brasileiras vinha crescendo de longa data, passando de 0,5% na primeira década do segundo reinado para 15% na primeira década da República quando igualava a receita obtida com o café [Furtado. Formação econômica do Brasil, nota 133].
Participação ainda mais dramática da borracha nas exportações brasileiras foi o salto de 10%, em 1890, para 39%, em 1910 [Furtado. Formação econômica do Brasil, nota 148].
Esse quadro desmoronou no ano seguinte, justo quando se inaugurava a Estrada de Ferro Madeira - Mamoré.
A I Guerra Mundial (1914-1918)
De Pirapora a Belém
Francisco Ferreira Neto, alm. 150 anos de transportes no Brasil.
Monografia premiada em concurso do Ministério
dos Transportes e publicada
(com prefácio de Maurício Joppert da Silva) pelo Centro
de Documentação e Publicações,
Ministério
dos Transportes, 1974
Em 1911 discutiu-se no Congresso um grande projeto ferroviário,
pois nessa época era o Poder Legislativo quem elaborava os programas
de expansão dos transportes no País, através de autorização
ao Executivo e alocação de recursos financeiros que eram
introduzidos nos Orçamentos Gerais da União, ou apresentados
sob forma de Lei específica.
Esse projeto de Lei tinha sido sugerido pelo Engº Paulo de Frontin,
que exercia na ocasião as funções de Diretor da Estrada
de Ferro Central do Brasil, mas já havia mandado estudar
o assunto desde 1907, quando ocupava o cargo de Inspetor Federal de
Estradas de Ferro.
Tratava-se do prolongamento dos trilhos da Estrada de Ferro Central do
Brasil, que já se encontravam em Pirapora, até a capital
do Estado do Pará.
O projeto foi convertido em Lei e sancionado a 7 de setembro de 1911.
O empreendimento em foco, que atraiu as atenções jornalísticas
e empresariais da época, era para ser executado em 4 etapas. A
primeira seria de Pirapora a Formosa, esta situada na área onde
deveria ser construída a Nova Capital do Brasil, nos termos da
Constituição de 1891. A segunda, de Formosa a Palma [Paranã]. A terceira,
de Palma a Carolina, e a última desta cidade a Belém.
A 1ª Grande Guerra eclodiu quando ainda se processavam os estudos
básicos dessa ferrovia. As atenções governamentais
foram desviadas para os problemas gerados por esse conflito e as atividades
ligadas à construção da Pirapora-Belém voltaram
à estaca zero. Depois o projeto caiu no esquecimento. Na verdade,
não havia recursos internos suficientes para enfrentar esse empreendimento
de certo modo considerável. Por outro lado, o apelo a empréstimos
externos, no pós-guerra, era inviável.
Nessas condições, do projeto acima referido só se
concretizou a construção da ponte sobre o rio São
Francisco, a jusante da cachoeira, obra de arte que, por muito tempo,
constituiu a maior ponte metálica do País.
1912 - Relatório Paulo de Frontin
Projeto Paulo de Frontin,
Estrada de Ferro Pirapora — Belém do Pará, via planalto
central
[cf. AH2:107-108]
Rio de Janeiro, 15 de abril de 1912.
Nº 1.948.
Exmº Sr. Ministro de Estado dos Negócios da Viação
e Obras Públicas.
De conformidade com o art. 118 do Regulamento desta Estrada de
Ferro, tenho a honra de apresentar a V. Ex. o relatório resumido
do ano próximo.
(...)
Construção
Estão em construção os seguintes prolongamentos
e ramais:
1º) Prolongamento da linha centro até a margem esquerda
do rio S. Francisco.
(...)
9º. Estudos do prolongamento de Pirapora a Belém do
Pará.
Em comemoração à data da Independência
do Brasil foi a 7 de setembro do ano findo colocada a primeira estaca
dos estudos definitivos desse prolongamento, grandioso empreendimento,
que realiza simultaneamente o fim da linha de ligação
entre os Estados da União e de linha de penetração,
permitindo por si e pelos seus ramais integrar, na civilização
brasileira, imensas zonas do norte de Minas Gerais, da Bahia, de
Goiás, do Piauí, do Maranhão e do Pará.
O valor estratégico, administrativo e econômico deste
prolongamento, que constitui o grande elo das relações
entre a Amazônia e o centro sul do Brasil, é indiscutível
e quaisquer sacrifícios que a União tenha de fazer
para realizá-lo serão largamente compensados pela
segurança que dele resultará para a defesa nacional
e pela exploração de valiosas riquezas naturais hoje
desaproveitadas pela falta de vias de transportes.
Adotei para diretriz do prolongamento e ramais o seguinte traçado:
De Pirapora, a linha atravessa a jusante da cachoeira do mesmo
nome, o rio S. Francisco, com uma ponte de 420 metros, galga o divisor
das águas deste rio e do seu afluente o Paracatu, o qual
é atravessado acima da Cachoeira Grande; segue pelo vale
deste rio até a barra do rio Preto, [por]
cujo vale se desenvolve a fim de galgar o Planalto Central, atingindo
ali as proximidades da cidade de Formosa, situada no limite leste
do território demarcado para a futura capital da República.
(...)
Espero até junho estarem concluídos os estudos definitivos
das três seções, cuja extensão total
será de 2.650 km, o que dará para a distância
da linha férrea entre a Capital
Federal e Belém do Pará 3.650 km, que poderão
facilmente ser percorridos em três dias e meio; o que virá
grandemente concorrer para estreitar os laços entre os Estados
do extremo Norte e a Capital Federal.
(...)
Saudações respeitosas
Paulo de Frontin, Diretor.
O Plano da Borracha
Maria Lígia Coelho Prado e Maria Helena Rolim Capelato
(USP).
A borracha na economia brasileira da primeira República.
in História Geral da Civilização Brasileira,
Boris Fausto (org.), tomo III — O Brasil republicano, vol. 1 —
Estrutura de poder e economia (1889-1930), 4ª ed., São
Paulo, Difel, 1985
« Em 1912, o governo idealizou um Plano de Defesa da Borracha,
preconizando transformações fundamentais para a região.
Este plano, organizado pelo Poder Executivo, seguindo sugestões
dos governos do Pará e do Amazonas, foi submetido à
apreciação do Congresso Nacional em setembro de 1911,
quando se nomeou uma comissão especial para estudar a questão.
O projeto elaborado foi apresentado à Câmara em dezembro
de 1911, com um longo histórico da situação
da borracha e dos problemas por ela enfrentados. A concorrência
da Ásia foi o dado mais salientado, advertindo-se que dentro
de poucos anos não haveria mais solução para
a produção brasileira, se medidas enérgicas
não fossem tomadas.
A comissão observou que não se tratava de uma tentativa
de valorização do produto — a borracha não
tinha até aquele momento causas naturais de depreciação
— e sim de um plano de defesa, já que a borracha vinha sendo
objeto de audaciosa especulação dentro e fora do país,
em prejuízo do produtor e do comerciante da Amazônia.
o que o plano pretendia era obter nos mercados mundiais cotações
que fossem ditadas pelas necessidades do consumo [Congresso
Nacional, Anais da Câmara dos Deputados, vol. IX, 1911, Rio
de Janeiro, Tipografia do Jornal do Comércio, 1915].
O decreto nº 1543A de 5 de janeiro de 1912 estabeleceu medidas
destinadas a facilitar e desenvolver a cultura da seringueira, do
caucho, da maniçoba e da mangabeira e a colheita e o beneficiamento
da borracha extraída dessas árvores, ficando o Poder
Executivo autorizado não só a abrir os créditos
necessários à execução de tais medidas,
mas ainda a fazer as operações de crédito que
para isso fossem necessárias [Documentos
Parlamentares — Política Econômica — Defesa da Borracha
— 1906-1914, Rio de Janeiro, 1915].
Resumidamente, eis as medidas preconizadas:
-
Isenção de impostos de importação
a todo material destinado à cultura das seringueiras.
-
Instituição de prêmios aos
plantadores de seringueiras, caucho, maniçoba e mangabeira.
-
Criação de sete estações
experimentais de seringueiras (Acre, Mato Grosso, Amazonas,
Pará, Maranhão, Piauí e Bahia) e nove estações
para a maniçoba e a mangabeira (Piauí, Ceará,
Rio Grande do Norte ou Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, São
Paulo, Goiás, Paraná e Mato Grosso).
-
Subvenção a 9 usinas de refinamento
e 5 manufaturas de borracha.
-
Construção de 3 hospedarias de
emigrantes (Belém, Manaus e Acre) e de colônias
agrícolas e hospitais.
-
Construção de estradas
de ferro de bitola estreita ao longo dos rios Xingu, Tapajós
e outros (Pará, Mato Grosso) e rios Negro, Branco e outros
(Amazonas).
-
Construção de uma via
férrea central, ligando a estrada de ferro Madeira-Mamoré
às fronteiras do Peru.
-
Construção de uma estrada
de ferro de Belém a Pirapora, no Estado de Minas,
com ramificações diversas.
-
Execução de trabalhos para tornar
navegáveis, em todas as estações, os rios
Negro, Branco, Purus e Acre.
-
Isenção de todos os impostos às
embarcações de qualquer gênero destinadas
à navegação fluvial.
-
Criação de depósitos de
carvão de pedra em diversos portos do vale do Amazonas
(para o abastecimento dos vapores e lanchas).
-
Promoção e auxílio à
criação de centros produtores de gêneros
alimentícios no vale do Amazonas: criação
de gado, cultura de cereais, estabelecimento de charqueadas,
fábricas de lacticínios, engenhos de beneficiar
arroz, fábricas de farinha de mandioca.
-
Criação de uma empresa de pesca,
salga e conserva de peixe.
-
Revisão das leis relativas à concessão
e venda de terras.
-
Organização, a cada três
anos, de exposições de borracha no Rio de Janeiro.
-
Redução das taxas de exportação
da borracha do Pará, Amazonas, Acre e Mato Grosso.
-
Estabelecimento das mesmas vantagens em relação
à borracha do Acre.
-
Abertura dos créditos necessários,
a cada ano, para inteira execução da lei [Paul
Le Cointe faz comentários interessantes sobre o assunto
em sua obra L'Amazonie Brésilienne — Le pays — Ses habitants
— Ses resources — 2 vol., Paris, Librairie Maritime et Coloniale,
1922].
O projeto foi aprovado por unanimidade, sem discussões.
Entretanto, alguns meses depois, em julho de 1912, o senador paulista
Francisco Glicério pronunciou um discurso na Câmara
dos Deputados contra o plano de defesa, alegando que as despesas
seriam muito elevadas.
O deputado amazonense Luciano Pereira refutou calorosamente tais
argumentações, procurando mostrar o motivo pelo qual
se tentava impedir a realização do plano. Denunciou
a força política dos representantes dos Estados do
Sul, que defendiam principalmente os interesses do café.
Apontou para a atitude
incoerente de Glicério, que, após ter votado a
lei de proteção à borracha, sem restrições,
vinha depois criticá-la.
Afirmava: "... se em vez de beneficiar o Norte a lei fosse
em benefício do Sul, estou certo que o nobre senador nada
tinha a opor-lhe, achando talvez s. exª ainda poucas as medidas
nela configuradas... é por motivos iguais a este que se diz
ter sido até hoje a União mãe para o Sul e
madrasta para o Norte... o governo quis fazer exceção
a esta praxe odiosa e s. exª acha que ela ainda deve perdurar
por mais tempo [Congresso Nacional,
Anais da Câmara dos Deputados, vol. V, 1912, Rio de Janeiro,
Tipografia do Jornal do Comércio, 1915].
O deputado amazonense indignava-se contra o fato de que Francisco
Glicério, representante de um dos mais poderosos Estados
do Sul, criava embaraços a uma lei, de cuja execução
dependia a vida econômica do Norte. Lembrava, ainda, que por
ocasião da crise do café, os deputados do Norte votaram
a lei que autorizou o governo federal a endossar o empréstimo
de 15 milhões de libras esterlinas para amparar essa lavoura;
indagava por que a borracha, na situação difícil
em que se encontrava, não devia merecer a mesma proteção
que fora dispensada ao café.
Apesar das queixas, quando a borracha deixou de alcançar
altos preços no mercado internacional e surgiram as primeiras
dificuldades na exploração da goma, não se
despenderam esforços para uma tentativa de salvá-la,
pois o café, nesse período, representava o núcleo
da economia brasileira e atraía para si todas as atenções;
aos representantes dos Estados cafeeiros era fácil fazer
com que os favores da União para eles convergissem, deixando
de lado as necessidades dos distantes e inexpressivos Estados do
Norte. »
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