Plataforma Rodoviária de Brasília em um fim de tarde ensolarado. Foto: 8 Mar. 2004, 17h40
(Verão / Summer)
Rodoviária
Plataforma de ligação
Fim de tarde com chuva, 9-Dez-2003 (primavera
/ spring), 17h28.
Anoitecendo, 9-Jul-2003 (inverno / winter),
18h22.
Referências
Eu caí em cheio na realidade, e uma das realidades
que me surpreenderam foi a rodoviária, à noitinha. Eu
sempre repeti que essa plataforma rodoviária era o traço
de união da metrópole, da capital, com as cidades-satélites
improvisadas da periferia. É um ponto forçado, em que
toda essa população que mora fora entra em contacto com
a cidade. Então eu senti esse movimento, essa vida intensa dos
verdadeiros brasilienses, essa massa que vive fora e converge para a
rodoviária. Ali é a casa deles, é o lugar onde
eles se sentem à vontade. Eles protelam, até, a volta
para a cidade-satélite e ficam ali, bebericando. Eu fiquei surpreendido
com a boa disposição daquelas caras saudáveis.
E o "centro de compras" então, fica funcionando até
meia noite. Isto tudo é muito diferente do que eu tinha imaginado
para esse centro urbano, como uma coisa requintada, meio cosmopolita.
Mas não é. Quem tomou conta dele foram esses brasileiros
verdadeiros que construíram a cidade e estão ali legitimamente.
Só o Brasil. E eu fiquei orgulhoso disso, fiquei satisfeito.
É isto. Eles estão com a razão, eu é que
estava errado. Eles tomaram conta daquilo que não foi concebido
para eles. Foi uma bastilha. Então eu vi que Brasília
tem raízes brasileiras, reais, não é uma flor de
estufa como poderia ser. Brasília está funcionando e vai
funcionar cada vez mais. Na verdade, o sonho foi menor do que a realidade.
A realidade foi maior, mais bela. Eu fiquei satisfeito, me senti orgulhoso
de ter contribuído.
Lúcio
Costa, 30 III 1987
|