Flavio R. Cavalcanti - Set. 2013
Quanto custou Brasília Reportagem escrita em 1966 para rebater as declarações de Lincoln Gordon, — ex-embaixador dos EUA no Brasil, — sobre custos fabulosos da construção de Brasília. Papel-moedaNo capítulo Dinheiro do Brasil, Vaitsman parte do pronunciamento do deputado gaúcho Matheus Schmidt, de 5 Ago. 1966, para expor o delírio do ex-embaixador Lincoln Gordon a respeito de custos fabulosos e de fantásticas emissões de papel-moeda. Mostra que o total acumulado de emissões de papel-moeda, em toda a história do Brasil — desde a Independência, — não passou de Cr$ 0,2 trilhão, até o penúltimo mês do governo JK. Os dados utilizados por Vaitsman são do livro “Dinheiro no Brasil”, de F. dos Santos Trigueiros, publicado em 1966, com prefácio de Dênio Nogueira, — então, primeiro presidente [12 Abr. 1965 a 31 Mar. 1967] do Banco Central do Brasil, criado já na ditadura. Hoje, esses dados podem ser conferidos com os do IBGE em “Estatísticas do século XX” — segundo os quais, aquele volume de emissão de papel-moeda citado por Lincoln Gordon em Abril de 1966, só viria a ser atingido pela ditadura, ao final de seu terceiro ano, em 31 Dez. 1967. Mas, não seriam “trilhões” pois, com a maquiagem do “Cruzeiro Novo”, retirando três zeros, ficou sendo de NCr$ 3,598 “bilhões”. Contabilidade detalhadaNo capítulo “Caso único no mundo”, Vaitsman resgata um fato que vinha sendo afogado sob uma avalanche de denúncias de caráter meramente político — denúncias impressionantes, recheadas de adjetivos sonoros, e implantadas no imaginário coletivo pela repetição, martelada diariamente, durante anos, por grandes jornais, revistas e TVs: “Brasília (…) é a única cidade do mundo cuja construção pôde ser apurada sob todos os aspectos — jurídicos, políticos, técnicos, econômicos, financeiros e sociais — com o maior rigor, não só por determinação do sr. Jânio da Silva Quadros, logo que assumiu a Presidência da República, em 31 Jan. 1961, como também, e bem antes dele, por decisão da Câmara dos Deputados (…) Resolução nº 37, em Set. 1960, uma Comissão Parlamentar de Inquérito para Investigar as Condições de Construção de Brasília, Organização e Regulamentação de seus Serviços Públicos”. O principal “conteúdo” do livro de Vaitsman, hoje, é documentar o que as investigações tinham para mostrar naquele momento — no caso específico da CPI, cuja Subcomissão de Contadores realizou um trabalho minucioso, reconstituindo até o último centavo gasto nas obras de Brasília, casa por casa, metro quadrado por metro quadrado. Vaitsman não aborda os relatórios das outras duas subcomissões — de Engenheiros, e de Juristas — por não serem o foco do livro; mas fica registrado: — Esperam quem os pesquise. Deixa também um rastreamento dos resultados das Comissões de Sindicância instauradas pelo governo Jânio Quadros — as recomendações, e as últimas pistas de cada relatório. Ainda aguardam que, um dia, os pesquisadores vão atrás. Além da CPI e das Comissões de Sindicância do governo Jânio Quadros, a construção de Brasília também foi investigada por um ou vários Inquéritos Policiais Militares (IPM) do governo militar, a partir de 1964. Dessess IPMs, no entanto, provavelmente ainda não havia resultados a registrar, em 1966.
Relatórios da Subcomissão de ContadoresEm Set. 1960 — ainda nos últimos meses do governo JK, portanto, — foi instituída na Câmara dos Deputados uma “Comissão Parlamentar de Inquérito para Investigar as Condições de Construção de Brasília, Organização e Regulamentação de seus Serviços Públicos”. Os trabalhos da CPI prosseguiram pelos últimos cinco meses do governo JK, atravessaram os sete meses do governo Jânio Quadros e se estenderam até o governo João Goulart. A CPI instituiu três subcomissões — de Juristas, de Engenheiros, e de Contadores — para assessorá-la nessas áreas. A Subcomissão de Contadores — formada por Orlando Travancas, Hugo Brasil Cantanhede e Newton dos Santos Pinto (coord.) — apresentou 14 relatórios, o primeiro datado de 23 Mar. 1961 e o último de 18 Out. 1962. Onze desses relatórios esmiúçam todo o investimento feito pelas “Caixas Econômicas Federais” do Rio de Janeiro e de São Paulo; Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap); Fundação da Casa Popular; Grupo de Trabalho de Brasília (GTB); Banco do Brasil; Instituto de Previdência e Assistência aos Servidores do Estado (IPASE); e Institutos de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI); dos Ferroviários e Empregados em Serviços Públicos (IAPFESP); dos Bancários (IAPB); dos Empregados em Transportes e Cargas (IAPETC); e dos Comerciários (IAPC) — até o custo por metro quadrado construído, passando por materiais, aluguel de máquinas, taxas de administração, mão de obra, encargos sociais, alojamentos provisórios, cantinas de obra e juros. Parece que, até hoje, ninguém encarou. «» ª Livros sobre Brasília
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A notícia da UPILincoln Gordon declarou que a construção de Brasília foi financiada pela impressão de papel-moeda, segundo o relatório da Subcomissão de Dotações da Câmara dos Representantes. — Acho que podemos dizer que (Brasília) foi paga por todo o povo brasileiro, que sofre os efeitos desta inflação — afirmou o Subsecretário de Estado. Gordon calculou, durante seu depoimento à Subcomissão, que a construção de Brasília custou aos cofres do governo brasileiro 1 bilhão e 600 milhões de dólares — 3 trilhões e 536 bilhões de cruzeiros. Acrescentou que a Embaixada dos Estados Unidos no Brasil tinha calculado um investimento de 600 milhões de dólares antes de 1º de Abril de 1960, e que desde a realização deste cálculo tinha sido gasto mais de 1 bilhão de dólares na nova capital [trecho reproduzido de O Globo: Vaitsman, p. 11]. Terá somado a folha de salários do governo, — que antes, se “gastava” no Rio? Seria isto um “gasto com” (ou um “gasto em”) Brasília? Nesse meio-tempo, o governo Jânio, sabe-se, não investiu nada na nova capital. O governo João Goulart, cuja primeira metade não foi de sua responsabilidade? O governo “revolucionário” da Ditadura? Vai saber. Lincoln GordonLincoln Gordon foi nomeado embaixador no Brasil pelo presidente John F. Kennedy em Agosto de 1961, quando a política externa de Jânio Quadros — independente, não-alinhada aos Estados Unidos — já despertava inquietações entre a ala golpista do alto comando militar brasileiro, Lacerda, UDN etc. No dia seguinte à indicação de Lincoln Gordon, Jânio Quadros renunciou à Presidência da República, jogando o Brasil numa crise política “civil-militar”, com o vice-presidente João Goulart — intragável aos generais golpistas — do outro lado do planeta, em visita oficial à China comunista. Embora rapidamente aprovado pelo Congresso norte-americano, Lincoln Gordon só entregou suas credenciais ao governo brasileiro em Outubro de 1961, — quando a crise “civil-militar” já estava provisoriamente resolvida. — E permaneceu à frente da Embaixada até Fevereiro de 1966, às vésperas do segundo aniversário da ditadura que ajudou a implantar no Brasil. Desde 1962, Lincoln Gordon e John F. Kennedy já tinham acertado claramente as diretrizes de intervenção na política brasileira, financiando candidatos de oposição, jornais, manifestações, movimentos, institutos (IBAD, IPES), governadores contrários ao presidente João Goulart — como Carlos Lacerda, na Guanabara (ex-DF), entre outros. Também data de 1962, por coincidência, o acordo entre o jornal O Globo e o grupo Time-Life para implantação das primeiras emissoras de TV que dariam origem à Rede Globo, e que se desenvolveu rapidamente após o golpe militar de 1964. Juntamente com Vernon Walters, — adido militar, que conhecia muitos generais do alto comando brasileiro, como Castelo Branco, desde a campanha da FEB na Itália durante a II Guerra Mundial, — Lincoln Gordon coordenou o apoio e incentivo dos EUA aos altos oficiais envolvidos na conspiração contra o governo constitucional de João Goulart. No momento do golpe militar, esse apoio — coordenado por Lincoln Gordon — incluiu a “Operação Brother Sam”: o envio de uma frota de guerra (com armamento nuclear) para o litoral do Espírito Santo, onde deveria, entre outras coisas, fornecer combustíveis pela Estrada de Ferro Vitória a Minas para as tropas rebeladas no interior de Minas Gerais, na eventualidade de as forças favoráveis ao governo constitucional de João Goulart bloquearem o abastecimento a partir do Rio de Janeiro. Após dois anos de implantação da ditadura, Lincoln Gordon foi chamado de volta aos Estados Unidos e nomeado Subsecretário de Estado para Assuntos da América Latina. Nesta condição, compareceu em Abril de 1966 à Subcomissão de Dotações da Câmara dos Representantes, onde fez suas declarações a respeito da construção de Brasília. Embora prestasse depoimento em uma sessão secreta, o relatório “vazou”, e a notícia foi distribuída pela UPI para o mundo inteiro. Inclusive para O Globo, do Rio de Janeiro. |
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