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braziliana: Brasília, Brasil
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Grande sertão: veredas
João Guimarães Rosa
José Olympio, 7ª ed.
Rio de Janeiro, 1970
Campo fértil para infindáveis interpretações simbólicas, nem por isso Grande sertão: veredas deixa de pertencer a este mundo, — muito bem ancorado no tempo e no espaço.
A tese de Antônio Cândido, p.ex., — de um sertão mais “real” e mais “normal” na margem direita do rio São Francisco; e outro sertão “nefasto”, fugidio, imaginário, estranho e desencontrado, na margem esquerda [Itinerário de Riobaldo Tatarana p. xxiv], — é uma realidade que salta à vista dos mapas onde Macaulay traça as andanças de outros cavaleiros que varejaram o sertão, à margem da lei [A Coluna Prestes p. 2].
Desde 1910, os trilhos do trem de ferro, — braços de aço do poder estadual e federal, — estavam em Pirapora (MG), prontos a despejar soldados nas embarcações ao longo do rio São Francisco. E muito antes, desde 1896, estavam em Juazeiro (BA), na outra ponta do longo trecho navegável, amarrando toda a margem direita num “abraço férreo” de norte a sul.
Capa de “Grande sertão: veredas”, de Guimarães Rosa |
Coisas podiam acontecer nessa área, — tropelias, revoltas, e até enclaves mais ou menos independentes dos poderes estaduais e federal, dada a fraqueza destes dois e sua dependência dos “coronéis”, que eram quem de fato controlava o poder no interior, — mas bem menos do que no vasto sertão além do rio São Francisco, onde não chegava qualquer ferrovia.
Há um aspecto, provavelmente intencional, que aflora da saga: todos os combates e perseguições dos soldados contra os cangaceiros se deram do lado direito do rio São Francisco [Itinerário de Riobaldo Tatarana p. 24-25].
A saga de Riobaldo transcorte na metade norte de Minas Gerais, portanto sempre ao norte de Belo Horizonte, — construída entre 1894 e 1897, e sem maior desenvolvimento econômico ou populacional até 1922.
O limite leste da saga geográfica, do lado direito do São Francisco, é Grão-Mogol, alta vertente da Serra Geral — ou Serra do Espinhaço, — sobre o vale do Jequitinhonha, que desagua no Atlântico.
A Serra do Espinhaço segue sul-norte, da Diamantina mineira para a Diamantina baiana, separando o vale do São Francisco das bacias litorâneas.
Essa região da Serra do Espinhaço só aos poucos foi alcançada pela EFCB a partir de Corinto (1906), chegando a Buenópolis (1914), Catôni (1921), Engº Dolabela (1922), Bocaiuva (1925), Montes Claros (1926). Mas só chegaria a Monte Azul duas décadas mais tarde (1947), quando a jagunçagem épica já tinha virado história.
A EFBM também estava longe de Araçuaí, — onde só chegaria em 1942, mais de 10 anos depois da Revolução de 1930, — e, portanto, distante de Gão-Mogol.
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Mesmo assim, — e com o bando completo, — na margem direita, já tinham sido empurrados pelos soldados “para o norte”, em direção à Bahia, e tiveram de se dividir em pequenos grupos para voltar à margem esquerda.
Em Bahia entramos e saímos cinco vezes, sem render as armas. Isto que digo, sei de cór: brigar no espinho da caatinga pobre, onde o cãcã canta. Chão que queima, branco! E aqueles cristais, pedra-cristal quase de sangue… Chegamos até no cabo do mundo [p. 231].
De volta à margem esquerda do São Francisco, — em pequenos bandos, — a morte de um mensageiro esperado faz com que Riobaldo se ofereça para restabelecer contato com os que permaneciam na margem direita.
Infiltrado outra vez nessa área limite, como mensageiro, Riobaldo recebe a notícia de que os bandos aliados — a contactar — estavam destruídos, dispersos, e os sobreviventes fugidos para a Diamantina baiana, em busca da proteção do “coronel” Horácio de Matos [p. 53].
Nessa área limite, a saga de Riobaldo tangencia a saga da Coluna Prestes, que em 22 Abr. 1926 atingiu Serra Nova (MG), vindo da direção oposta — o interior da Bahia, pela chapada Diamantina, — e sofrendo ataques diários dos jagunços de Horácio de Matos [A Coluna Prestes p. 214].
Na extremidade oposta, — a oeste da margem esquerda do São Francisco, nos limites de Goiás e do DF atual, — a saga de Riobaldo Tatarana também tangencia a saga da Coluna Prestes, repetidas vezes.
Um desses tangenciamentos — retrospectivo — estabelece que a Coluna Prestes “veio depois”:
Os revoltosos depois passaram por aqui, soldados de Prestes, vinham de Goiás, reclamavam posse de todos animais de sela. Sei que deram fogo, na barra do Urucuia, em São Romão, aonde aportou um vapor do Governo, cheio de tropas da Bahia [p. 77].
De novo, os percursos são invertidos, como num espelho: — Os jagunços ali saem um pouco de Minas e retornam; — A Coluna Prestes apenas sonda Minas e torna a sair.
Em comum, no exato, têm o Liso do Sussuarão, que ambos atravessam, — os jagunços, na segunda tentativa, para chegar à Bahia por detrás das sentinelas inimigas; — a Coluna Prestes, para reentrar em Goiás, quando já não era mais esperada em Posse.
Por consequência, também no território do atual DF as duas sagas se tangenciam em sentidos cruzados, — a Coluna Prestes, do Descoberto para Planaltina (SW-NE); — os jagunços de Riobaldo, com a presa arrebatada na Bahia, descendo o vale do rio Preto (N-S) para voltar a Minas pelo São Marcos.
A inversão também ocorre no plano geral, uma vez que a saga da Coluna Prestes progride do Liso do Sussuarão até a Serra do Espinhaço, quase um ano depois, — enquanto a de Riobaldo avança do Espinhaço para o Liso do Sussuarão e o combate final.
Na fase final, a saga de Riobaldo começa a tangenciar um futuro ainda mais distante do que a Coluna Prestes, — Brasília, cuja construção começa em 1956, ano de publicação do romance.
E não só pela travessia da porção leste do DF atual, como pelo rumo seguinte, similar ao da BR-040, Brasília - Belo Horizonte, para ir travar o combate final no Paredão, — que durante 4 anos, até o final de 1960, seria citado inúmeras vezes em relatórios oficiais, discursos parlamentares e notíciais de jornais, como palco da construção do prolongamento da EFCB até a nova capital.
Horácio de Matos assumiu o comando do clã dos Matos e o controle da região Diamantina baiana em 1912; e só foi apeado após a Revolução de 1930, — preso em 30 Dez. e levado para Salvador, onde seria assassinado no ano seguinte.
Isso delimita o cenário da saga de Riobaldo Tatarana em um espaço de 18 anos.
Ao informar que a Coluna Prestes “veio depois”, — depois de tudo, pois o narrador, já distanciado da jagunçagem, não se refere a nenhum episódio específico de sua saga, — reduz o cenário a uma faixa de 13 anos, anterior a 19 Ago. 1925, data do tiroteio em São Romão [p. 77].
Bibliografia
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Bibliografia Índice das revistas Centro-Oeste (1984-1995) - 13 Set. 2015 Tudo é passageiro - 16 Jul. 2015 The tramways of Brazil - 22 Mar. 2015 História do transporte urbano no Brasil - 19 Mar. 2015 Regulamento de Circulação de Trens da CPEF (1951) - 14 Jan. 2015 Batalhão Mauá: uma história de grandes feitos - 1º Dez. 2014 Caminhos de ferro do Rio Grande do Sul - 20 Nov. 2014 A Era Diesel na EF Central do Brasil - 13 Mar. 2014 Guia Geral das Estradas de Ferro - 1960 - 13 Fev. 2014 Sistema ferroviário do Brasil - 1982 - 12 Fev. 2014 |
Ferreofotos Alco RSD8 Fepasa - 29 Fev. 2016 G12 200 Acesita - 22 Fev. 2016 “Híbrida” GE244 RVPSC - 21 Fev. 2016 U23C modernizadas C30-7MP - 17 Fev. 2016 C36ME MRS | em BH | Ferronorte - 14 Fev. 2016 Carregamento de blocos de granito na SR6 RFFSA (1994) - 7 Fev. 2016 G12 4103-6N SR6 RFFSA - 6 Fev. 2016 Toshiba nº 14 DNPVN em Rio Grande - 25 Jan. 2016 Encarrilamento dos trens do Metrô de Salvador (2010) - 14 Nov. 2015 Incêndio de vagões tanque em Mogi Mirim (1991) - 9 Nov. 2015 Trem Húngaro nas oficinas RFFSA Porto Alegre (~1976) - 21 Out. 2015 |
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