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Estrada Real dos GoyazesA Estrada Real dos Goiases foi aberta em 1734, com 3 mil km, da Bahia até a fronteira da Bolívia. Quase ignorada pela historiografia tradicional, começou a ser resgatada na década de 1980, por pesquisadores goianos / brasilienses que, desde então, iniciaram uma “arqueologia” de seu percurso, identificando vários trechos no terreno.
Longitudes
Estes livros ajudam a compreender a evolução histórica das técnicas de determinação das longitudes, de interesse para a compreensão do rompimento da linha de Tordesilhas, do Tratado de Madri e da delimitação do chamado Retângulo Cruls, entre outros aspectos da história do Brasil e da localização de Brasília.
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braziliana: Brasília, Brasil
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Francesco Tosi Colombina
explorador, geógrafo, cartógrafo e engenheiro militar italiano no Brasil do século XVIII
Riccardo Fontana
Trad.: Edilson Alkmim Cunha
Charbel, Brasília, 2004
15 x 21 cm, 60 p. + mapa
39 x 57 cm
O geômetra, geógrafo, cartógrafo, engenheiro militar italiano Francisco Tosi Colombina compilou um dos mais antigos e completos mapas de Goiás e dos caminhos que cortavam o planalto central do Brasil em todas as direções — “verdadeira carta dos caminhos terrestres e fluviais do Brasil, entre S. Paulo e Cuiabá, entre o Prata e o Amazonas” [Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri, tomo 1, p. 317], — datado de 1751.
Naquele momento, a febre do ouro já havia povoado o interior do Brasil com pessoas vindas de todo o planeta português, — os “mboabas”, que deslocaram os privilégios reivindicados pelas principais famílias paulistas, — e a administração portuguesa tratava de estruturar as novas capitanias de Goiás e Mato Grosso, para consolidar o território obtido pelo Tratado de Madri (1750) em troca da Colônia de Sacramento (Uruguai) e das Filipinas.
Capa do livro “Francesco Tosi Colombina”, de Riccardo Fontana |
O italiano Francisco Tosi Colombina tinha sido recrutado pela administração portuguesa, aparentemente na segunda metade ou fins da década de 1720, para ensinar os novos avanços da cartografia, no movimento que Jaime Cortesão chamou de “Renascimento das ciências geográfica e cartográfica em Portugal” [Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri, tomo I, p. 273-291], financiado, — entre outros investimentos no Brasil, — pelo ouro extraído nas Minas Gerais, depois em Mato Grosso e Goiás.
Nesse período inicial, Colombina teve, entre seus alunos, o futuro Secretário de Estado Tomé Joaquim da Costa Côrte-Real, ao qual viria a oferecer um de seus mapas em 1756.
“Dois fatos caracterizam essa fase: a abertura e as cartas de caminhos terrestres e fluviais através do Brasil; e os planos e construção de fortalezas, no interior do continente, algumas, como a do Príncipe da Beira, no Guaporé, verdadeiros prodígios de tenacidade, a marcar, com bravura e arrogância, os limites da soberania portuguesa, em frente à América espanhola” [Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri, tomo I, p. 317].
Entre esses investimentos no Brasil, Jaime Cortesão observa que, “15 ou 10 anos antes da celebração do Tratado de Madri, todos os postos chaves do Brasil, ou são ocupados por engenheiros, ou por governadores que se fazem acompanhar de engenheiros ou cartógrafos” [Alexandre de Gusmão e o Tratado de Madri, tomo I, p. 320].
É nesse contexto que D. Marcos José de Noronha e Brito, 6º Conde dos Arcos e primeiro capitão-general [1749-1755] da recém criada capitania de Goiás, se faz acompanhar do engenheiro, geômetra e cartógrafo Francisco Tosi Colombina — para abrir e mapear caminhos, construir prédios públicos, fortificações, ou o que mais fosse necessário.
Sumário
Índice dos mapas
Índice dos uniformes históricos do Exército português
Fontes bibliográficas |
Nada disso está no livreto do historiador Riccardo Fontana.
Do capítulo inicial sobre a “Influência técnica italiana em Portugal”, — italianos a serviço de Portugal entre 1317 e 1601, — pula para “Pombal recruta italianos para o Brasil”, saltando por cima das 4 décadas de reinado de D. João V, “O Magnânimo”, em que o brasileiro Alexandre de Gusmão promoveu o recrutamento de técnicos, — inclusive Francisco Tosi Colombina, — o ensino e a formação de uma geração de astrônomos, matemáticos, geômetras, geógrafos, cartógrafos, engenheiros militares etc. para definir e defender as novas fronteiras econômicas abertas pelo ciclo do ouro e sua linha de abastecimento desde os Pampas.
Alguns fatos anteriores a Pombal apenas pontuam o texto, aqui e ali, de modo desarticulado, descontextualizado, misturado aos fatos da época seguinte.
Em uma forma de etnocentrismo, talvez natural em uma carreira dedicada a louvar patrícios italianos envolvidos na história do Brasil, — como Américo Vespúcio, Ermanno Stradelli, Tenente-General Napione, Giovan Vincenzo Sanfelice, — a figura de Colombina vai recebendo adjetivos e adquirindo grandeza um tanto desproporcional ao papel, relativamente secundário, que de fato teve naquele contexto histórico.
Entre cartas secretas e cuidados com o fantasma da espionagem, passa batido, por exemplo, que Tosi Colombina estava excluído do conhecimento mais valioso, — o das longitudes, — como ele mesmo evidencia, ao justificar eventuais erros em seu mapa, por não ter tido acesso às observações astronômicas dos “padres matemáticos”.
Em “Sustentação à ideia de transferir a capital colonial para o interior do Brasil”, o Autor dá verdadeiro salto mortal, ao afirmar que
“é mister reconhecer, conceitualmente, a primeira ideia profética, o apoio técnico e a sugestão ao Reino português da necessidade de interiorizar a capital do Brasil colonial” [p. 36]
— sem ter indicado qualquer documento ou frase de Colombina ou de terceiros, sobre essa suposta “ideia” ou “sugestão”.
Daí, o advérbio “conceitualmente” — que resguarda não ter encontrado, de fato, indício algum de tal “ideia” ou “sugestão”.
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É, apenas, uma simpática tentativa “conceitual” de validar afirmações — frequentes nas “histórias de Brasília” escritas por não-historiadores, — de que Pombal pretendesse fundar uma capital no planalto central, e de que a proposta comercial de Colombina, de construir e explorar uma estrada de Santos a Cuiabá, teria alguma ligação com tal suposto projeto pombalino.
Pode-se, no máximo, admitir que a estrada serviria de “apoio” a uma capital no interior, — se, de fato, Pombal tivesse tal “ideia”.
Vale lembrar que, naquele momento, Santos e São Paulo não tinham importância econômica que justificasse o investimento em tal estrada.
O que tinham, era o desejo de manter as novas capitanias de Goiás e Mato Grosso atreladas aos interesses das principais famílias paulistas, — anulando a influência dos caminhos para Belém, Maranhão, Piauí, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, — e seria interessante descobrir de que modo esse desejo se transmitiu ao italiano Tosi Colombina [que, aliás, também fez outra proposta de exploração comercial, no vale do Tibagi, atual Paraná, que continuava fazendo parte da capitania de São Paulo].
“As informações detalhadas e pioneiras, contidas em seu primeiro mapa, proporcionaram a Lisboa a motivação lógica para transferir, do Rio de Janeiro para o interior, a capital da colônia” [p. 36].
O mapa e as informações até poderiam ter “proporcionado” etc., — mas o autor não apresenta qualquer indício de que delas o governo português tivesse, de fato, extraído qualquer “motivação lógica”. — E aqui vale lembrar que a capital do Brasil-colônia ainda era Salvador. Só 12 anos mais tarde, em 1763, seria transferida para o Rio de Janeiro.
“Ideia que também ficou no papel” [p. 36].
Talvez, nem isso, já que até aqui não se demonstrou que a “ideia” tenha ocorrido a Colombina, e muito menos que ele a tenha colocado em algum papel.
E não hesita em acrescentar o “sonho profético” de Dom Bosco, — este, sim, devidamente documentado por Tamanini, com foto-reproduçãodos manuscritos do santo, para mostrar que o sonho nada tinha a ver com Brasília [Brasília: memória da construção, Tomo I, p. 107-119. — A ligação do sonho com Brasília não passou de uma pegadinha de alguns “mudancistas” goianos, para convencer JK e Israel Pinheiro a construírem a nova capital no planalto central, — e não no Triângulo Mineiro, como vinham planejando havia 10 anos].
“É importante, por conseguinte, registrar que a concepção técnica e estratégica de fundo, embora no contexto da vontade política do Marquês de Pombal, foi do italiano Tosi Colombina” [p. 36-37].
Outra vez, apenas um simpático jogo de palavras — “concepção técnica e estratégica de fundo”, “contexto da vontade política do Marquês de Pombal” — tudo no universo do “conceitual”, martelando e repisando uma concepção que não pode ser afirmada no mundo real. Fica o dito pelo não dito, reforçando o mito, — perante um leitor desatento, — com as aparências de afirmação histórica.
São particularmente interessantes, para pesquisa:
Fontes portuguesas apresenta um levantamento de 17 documentos referentes a Colombina localizados no Arquivo Ultramarino, de Lisboa, acenando com a possibilidade de serem encontradas novas referências, à medida em que os arquivistas portuguesas avancem na sua organização [p. 30-35].
Mapa de Tosi Colombina (1751) em tamanho 39 x 57 cm, a cores (pero no mucho), a partir de antiga reprodução fotográfica da carta existente na 3ª Seção do Estado Maior do Exército [envelope].
Transcrição do texto manuscrito sob o mapa de 1751, cuja leitura é quase impossível na reprodução do mapa [p. 41-43].
Instruções manuscritas relativas ao mapa de 1751, idem [p. 44-46].
Mapa da Capitania de Goiás e do Brasil Central (1749) é, ao que tudo indica, uma versão inicial do mapa de 1751. Embora não esteja assinado, não há muita dúvida de que seja de Tosi Colombina. Reprodução, também a cores, pela Comissão Rondon, no Rio de Janeiro, em 1919, e fornecido por Paulo Bertran, de seus arquivos, em 2004. Infelizmente, não vem acompanhado da transcrição das legendas [p. 50-51].
Mapa das Cortes de 1749 xx [p. 52].
Mapa de Tosi Colombina de 1756 xx [p. 53].
Dedicatória e explicações manuscritas no mapa de 1756 xxx [p. 47].
Francisco Tosi Colombina "ensinou geografia em Lisboa" na segunda metade da década de 1720 "ou pouco depois", pelo que se depreende do capítulo de Jaime Cortesão sobre "A cultura de longitude e a formação dum novo tipo social" [T. 1, p. 292-321]. A datação é vaga. Começa por citar o tenente-coronel Chermont, que ensinava "todas as partes da Matemática" a mais de 20 fidalgos, segundo registro do Conde de Ericeira em seu Diário, 1733. Seguem-se dois "estrangeiros": Monsenhor de la Pomeraie, que ensinava na Academia Militar, segundo registro da Gazeta de Lisboa, 1729; e Luís Baden, que ia ensinar um Curso de Filosofia Experimental, segundo a Gazeta de Lisboa, 1725. Chega, então, a Colombina: "Por esse tempo ou pouco depois ensinou também geografia, em Lisboa, Francisco Tosi Colombina" [T. 1, p. 316].
Isto situa a contratação de Colombina em pleno reinado de D. João V, — que investiu na cultura das "matemáticas" (engenharia, fortificação, geografia, cartografia e observação astronômica das longitudes), — e cerca de, pelo menos, 2 décadas antes da ascensão de Pombal.
Entre os alunos de Colombina, esteve um futuro secretário de Estado — Tomé Joaquim da Costa Corte-Real, — a quem dedicará um de seus mapas em 1756, já na época de Pombal. A primeira referência cronológica encontrada a Tomé Joaquim da Costa Corte-Real, em rápida pesquisa na internet, refere-se ao ano de 1743, quando se tornou conselheiro do Conselho Ultramarino, juntamente com Alexandre de Gusmão. Este ano de 1743 é, também, o mesmo em que se supõe que Colombina passou de Portugal para o Brasil, com base em sua própria afirmação no manuscrito "Descobrimento das terras do Tibagi", de 1953, onde dizia já estar há 10 anos na colônia [Stephanie Souza. "Francisco Tosi Colombina e o Legado da Engenharia Militar: erudição e tradição na cartografia setecentista"].
O que fez Colombina em seus primeiros anos no Brasil, ainda não consegui descobrir. Uma das possibilidades, é que ensinasse na Academia Militar do Rio de Janeiro, criada por volta de 1740.
Sua atuação na capitania de Goiás iria de 1749 a 1753, acompanhando o primeiro governador, Marcos de Noronha, Conde dos Arcos.
As capitanias de Goiás e Cuiabá tinham sido criadas por carta régia de 1748 [Taisir Mahmudo Karim. "Mato Grosso: de descrição a nome - um percurso enunciativo"], — para estruturar a ocupação portuguesa das "novas minas", — com base na bula papal "Candor lucis", de 1745, pela qual o papa Benedito XIV erigiu as dioceses de Mariana e São Paulo e as prelazias de Goiás e Cuiabá, sancionando desse modo um avanço lusitano a oeste da linha de Tordesilhas [Tomo 1, p. 66].
Uma das primeiras providências era mapear a nova capitania de Goiás, — povoações, rios e caminhos, — o que começou a ser feito de imediato, uma vez que ainda em 1749 foi traçado o primeiro mapa. A versão mais completa seria concluída em 1751.
Essa espantosa rapidez já indicaria, — se não houvesse abundante comprovação, — que tais mapas foram uma compilação de relatos, roteiros e esboços preexistentes, recolhidos em Goiás e alhures.
Em todo o Brasil, — pelo menos até o Tratado de Madrid, em 1750, — apenas os 2 "padres matemáticos", Domingos Capassi e Diogo Soares, dispunham de conhecimentos, treino e instrumentos para levantar as longitudes por observação astronômica. Vale dizer, eram os únicos habilitados a traçar mapas pelas coordenadas geográficas, cientificamente determinadas.
Tudo mais era "arte", — ainda que da melhor qualidade, — com base apenas nas latitudes (nem sempre exatas) e na estimativa das distâncias percorridas pelos viajantes.
Os próprios "padres matemáticos", — em especial Diogo Soares, que sobreviveu para percorrer as principais regiões da colônia durante 18 anos, — puderam levantar apenas um número relativamente reduzido de longitudes, observadas nos pontos considerados mais importantes, enquanto recolhiam relatos, roteiros e esboços preexistentes [FRC].
Estes livros ajudam a compreender a evolução histórica das técnicas de determinação das longitudes, de interesse para a compreensão do rompimento da linha de Tordesilhas, do Tratado de Madri e da delimitação do chamado Retângulo Cruls, entre outros aspectos da história do Brasil e da localização de Brasília.
A Estrada Real dos Goiases foi aberta em 1734, com 3 mil km, da Bahia até a fronteira da Bolívia.
Quase ignorada pela historiografia tradicional, começou a ser resgatada na década de 1980, por pesquisadores goianos / brasilienses que, desde então, iniciaram uma “arqueologia” de seu percurso, identificando vários trechos no terreno.
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