Congresso, 1893
Antes que a verba acabe

Anais da Câmara dos Deputados, vol. IV, pág. 751,
sessão de 26 de agosto de 1893, cf. AH1:242-244

p. 242

O sr. Lauro Müller diz que são ligeiras as considerações que vai aduzir em relação à emenda única que apresentou ao orçamento da Agricultura.

A Câmara sabe perfeitamente quanto vão adiantados os trabalhos que, por força da Constituição, devem ser feitos, para a mudança da capital federal; e quanto urge, segundo o seu modo de ver pelo menos, que se prossiga neste trabalho, de maneira que aquela mudança que, forçosamente há de ser demorada, não o seja por culpa da Càmara.

p. 243

Nesse sentido, e tendo a responsabilidade de ter sido o incumbido no Congresso Constituinte por muitos colegas que assinaram aquela disposição, ora constitucional, de apresentá-la à consideração da Constituinte, entendeu que era obra de patriotismo contribuir para que os trabalhos já feitos, e muito bem feitos, não sofressem demora no seu complemento, como fatalmente sofreriam se não se preocupassem com eles por meio de uma emenda, que é o modo mais rápido de apresentar alguma disposição que os fizesse completar.

O seu ilustrado colega, deputado por Goiás, apresentou à consideração desta casa um projeto de lei que poder-lhe-ia dispensar da apresentação desta emenda, se não fôra lembrar que, complexo como ele é e tendo de atravessar as discussões regimentais, não se poderia convertê-los em lei este ano, visto que já falta tempo talvez mesmo para votar as leis indispensáveis.

Eis porque, apesar do projeto apresentado por S. Exª, não se privou de apresentar a menda, que havia elaborado, e que, em essência, cogita das idéias principais daquele projeto, embora não dê uma organização tão completa quanto ali cabia e aqui não cabe.

Demarcada, como foi, a zona do planalto central, onde vai ser situada a capital federal, parece que os problemas que se impõem agora à consideração do legislador resolverão a escolha definitiva do local, o levantamento da planta topográfica da zona e a questão de ligação que é importante, porque não se pode ter uma capital federal privada das ligações pelos meios mais rápidos possíveis.

A comissão de orçamento, sem se opor, como não se opôs, à aprovação do aditivo que apresentou conjuntamente com outros nobres deputados, os srs. Paranaguá e Ivo do Prado, cujos nomes pede licença para declinar, lembrou a conveniência da ligação da zona demarcada à estrada de ferro já existente, que é a que deve ligar Catalão a Cuiabá.

Vem, por isso, dizer algumas palavras, para que não seja mal interpretado o pensamento que teve, quando disse que a comissão que fosse nomeada faria o reconhecimento de uma via-férrea, que mais diretamente ligasse aquela zona a esta capital.

Não se referiu a esses trabalhos, referiu-se a reconhecimento propriamente, na expressão técnica, trabalho que não acarreta ônus, as dificuldades de tempo que poderiam ser supostas se se pensasse que tratava desde logo de cogitar da construção de uma via-férrea; ao contrário disto, pensa que a primeira ligação que fatalmente se há de dar no planalto central, com a zona litoral, há de ser, aproveitando vias férreas e mais vias-mistas já existentes; não podia pensar que esta primeira ligação daquela zona com o litoral seria feita por meio de uma estrada construída expressamente para este fim; ao contrário, pensa que, uma vez feitos os estudos, as primeiras ligações serão estabelecidas, não só por esta estrada, como propõe a comissão, como por outras estradas, que completem as redes de viação.

p. 244

De modo que, mais tarde, justificada a necessidade da rapidez de comunicações, poder-se-á então fazer uma estrada de ferro direta entre aquela zona e esta capital ou entre a capital já existente e o Estado que hoje constitui Distrito Federal.

Não queria que fosse mal interpretada esta emenda que apresentou e, por isso, vem dar estas explicações.

Propondo, como propôs, que a comissão escolhesse o local, crê que redigiu a emenda de modo a corresponder às primeiras necessidades; porque mais esta ligação proposta pela comissão não se deve fazer, pensa, sem se ter primeiramente feito a escolha do local, visto como, em uma zona de 14.400 quilômetros quadrados, podem ter lugar as variantes.

Nestas condições, pensa que a primeira coisa a fazer-se é a escolha do local, e segunda é o levantamento topográfico da zona.

Se falou em estrada de ferro é porque, havendo uma comissão nomeada para este fim, ela poderia fazer o reconhecimento de uma via-férrea, com o necessário trabalho de ida e volta.

Eram antes as explicações que queria dar, para não indispor a Câmara contra a emenda, que não tem por fim criar a necessidade de criar uma estrada que ligue diretamente aquela zona a essa; mas apenas dar lugar à comissão para fazer o reconhecimento que, a seu ver, não tem pouco trabalho, apenas o de ida e volta, e muito pouco acrescentará aos trabalhos já existentes.

Ninguém mais pedindo a palavra, é encerrada a discussão e adiada a votação.

   

Documento

Referências

Brasília nos planos ferroviários (DF)
Ferrovias concedidas do plano de 1890 | EF Tocantins | Cia. Mogiana | Ferrovia Angra-Catalão | EF Goiás | Ferrovia Santos - Brasília
O prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil | A ferrovia da Cia. Paulista | Ferrovias para o Planalto Central | Documentação
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