Jango, 1962
Mensagem ao Congresso

p. 23-24

A modificação da estrutura agrária é essencial para atenuar os enormes desníveis econômicos e sociais entre a cidade e o campo e eliminar a contradição entre o crescimento das forças produtivas e o atraso das relações sociais imperantes na agricultura. A consciência brasileira aplaudirá, por certo, todas as providências orientadas no sentido de corrigir os desequilíbrios e desajustamentos existentes.

A reforma agrária, de acordo com a conceituação moderna e democrática, implica na revisão, por processos diversos, das relações jurídicas e econômicas entre os que trabalham e os que detêm a propriedade rural, visando a disciplinar o domínio e o uso da terra. Se, de um lado, pretende-se atender a um imperativo de justiça social, com a elevação da quota-parte da renda agrícola que toca aos setores menos favorecidos da coletividade rural — pequenos proprietários, rendeiros, parceiros e assalariados —, de outro lado, e com o mesmo empenho, procura-se a criação de condições que permitam o incremento do produto agrícola, com a libertação de forças produtivas latentes, até agora reprimidas por efeito de uma estrutura agrária rígida e defeituosa.

A reforma agrária, com o sentido de multiplicar o número de pessoas diretamente interessadas no maior rendimento da exploração agrícola, e de possibilitar a acumulação de poupanças por parte daquela categoria social que, no regime de terras ora vigente, vive abaixo do limite mínimo de subsistência, dará grande impulso à implantação de uma agricultura moderna, em bases racionais. Permitirá, como conseqüência, o oferecimento de maior quantidade de produtos da terra e maior consumo dos produtos das indústrias brasileiras. Dessa forma, através de processos legais e legítimos, será possível alcançar o equilíbrio sócio-econômico necessário ao desenvolvimento harmônico do País e proporcionar às populações do campo o nível de dignidade que dá conteúdo ao princípio de igualdade nas democracias.

(...)

p. 28-31

3.4 -- Sistemas de transportes e comunicações

No sistema de transportes situa-se um dos pontos de estrangulamento da infra-estrutura econômica do País.

Implantado no Brasil, paulatinamente, na medida em que se desenvolvia a tecnologia de cada sistema específico, encontra-se a Nação frente aos mais variados problemas de natureza econômica e administrativa, que demandam soluções rápidas, inteligentes e, sobretudo, corajosas.

Inicialmente, foi estabelecido um sistema de cabotagem e navegação de longo curso, voltado para o comércio exterior e para a ligação das principais cidades da orla marítima, o qual foi complementado por um sistema ferroviário de penetração. Durante muito tempo, este tipo de operação de transporte atendeu às necessidades brasileiras, apresentando rentabilidade suficiente para atrair novos investimentos e, em conseqüência, permitir sua expansão.

Simultaneamente com o desenvolvimento industrial, surgiram dois outros sistemas de transporte — o rodoviário e o aéreo —, que, oferecendo muito maior flexibilidade operacional, deslocaram em seu favor grande parte do interesse da exploração de transportes.

A formação de déficits nas operações de ferrovias e da marinha mercante levou o Estado a assumir, nos dois setores, responsabilidades mais diretas, subvencionando-as ou administrando-as, a ponto de somente a Rede Ferroviária Federal e a marinha mercante consumirem, na cobertura de despesas de manutenção, mais de 20% da receita da União. Nenhum outro argumento indicaria, de forma tão precisa, a seriedade da matéria.

Os aspectos negativos que ora apresentam esses sistemas devem servir de motivo para a coordenação e disciplina dos investimentos em todos os setores de transportes, na sua reorganização e ampliação, de maneira a obter-se a eficiência necessária.

No setor ferroviário, são requeridas providências para retificação e melhoria das especificações dos ramais-troncos, notadamente o Tronco Principal Sul, destinado a ligar o Rio de Janeiro a Porto Alegre, em bitola larga; no levantamento dos ramais deficitários, substituindo-os por estradas de rodagem; na criação de variantes, evitando a implantação de novos trechos; no incentivo à concentração do tráfego nos transportes rentáveis, como os de grandes massas; na recuperação de vias permanentes; no reequipamento e recuperação do material rodante e de tração; no aperfeiçoamento e racionalização dos métodos de trabalho, visando à melhoria da produtividade do pessoal; e na efetiva colaboração com o programa de coordenação de transportes.

(...)

Examinados os problemas dos sistemas de transportes, isoladamente, cabe assinalar que o Brasil iniciou a fase de reestruturação desses sistemas, com a criação do Conselho Nacional doa Transportes, que se dedicará ao trabalho de planejamento global, em função do qual serão considerados, para a adequação de cada sistema de transportes, as questões de reequipamento, critérios de prioridade, reorganização administrativa, níveis tarifários e outros de infra-estrutura, os quais deverão ser solucionados concomitantemente, e com urgência, para se alcançar a redução dos custos, maior produtividade e a complementação dos sistemas, antes que o agravamento da situação provoque o total colapso dos transportes. Esta será a missão precípua do Conselho Nacional dos Transportes, do qual a Nação espera o máximo rendimento, ciente de que uma coordenação geral de transportes não dependará apenas do esforço desse novel conselho, mas também da inestimável cooperação do Congresso Nacional, ao examinar os programas de investimentos setoriais respectivos.

(...)

Em ambos os sistemas, o de transportes e o de comunicações, devem ser considerados novos critérios tarifários, que assegurem a melhoria do seu rendimento. A tendência de enquadrar suas operações no plano de serviços industriais deve levar em conta que a diferenciação dos níveis de renda entre as distintas regiões não permite rigidez na aplicação de tal critério. O custo da integração é ônus a ser repartido.

   

João Goulart
Mensagem ao Congresso Nacional
remetida pelo Presidente da República na abertura da sessão legislativa de 1962

1962

Referências

 

Brasília nos planos ferroviários (DF)
Ferrovias concedidas do plano de 1890 | EF Tocantins | Cia. Mogiana | Ferrovia Angra-Catalão | EF Goiás | Ferrovia Santos - Brasília
O prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil | A ferrovia da Cia. Paulista | Ferrovias para o Planalto Central | Documentação
A idéia mudancista | Hipólito | Bonifácio | Independência | Império | Varnhagen | República | Cruls | Café-com-leite | Marcha para oeste | Constitucionalismo | Mineiros | Goianos | Projetos de Brasil | Ferrovias para o Planalto Central
 
  
    
 
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