Jango, 1963
Mensagem ao Congresso

p. 77-80

F) Transportes

1. Considerações gerais

A ausência de um adequado planejamento nos setores infra-estruturais indispensáveis ao desenvolvimento da economia, como os transportes, vinha concorrendo para que se verificassemd esperdícios e descontinuidade na execução de obras, assim como a formação de pontos de estrangulamento com repercussões adversas no conjunto das atividades produtoras.

Com a criação, no Ministério da Viação de Obras Públicas, do Núcleo de Planejamento, que levantou e analisou o montante dos investimentos do governo federal realizados entre 1956 e 1962, em ferrovias, marinha mercante, portos e rodovias, pôde-se comprovar o crescimento relativamente mais intenso das rodovias, em detrimento de outros setores, como, por exemplo, o de portos.

Tornou-se, assim, indispensável a elaboração de um programa de atividades plurienal, visando a disciplinar os investimentos em função de objetivos harmonicamente definidos para o conjunto do sistema de transportes. Esse planejamento constituía uma necessidade tanto mais urgente quanto as modificações operadas na estrutura econômica e social do País, com a preeminência das atividades industriais, tornaram obsoleta grande parte da infra-estrutura de transportes.

A execução de um plano dessa natureza exige trabalho continuado de aferições e ajustamentos sucessivos e, sobretudo, o acompanhamento dos cronogramas de obras e serviços, fazendo-se o rigoroso controle dos prazos de construção e da aplicação dos recursos programados. A par disto, mister se faz a execução das medidas de maior alcance determinadas no plano, no que se refere ao apoio ao setor operacional.

2. Ferroviário

As ferrovias, cuja função no sistema de transporte nacional é o atendimento de regiões de alta densidade de carga, constituem preocupação central do governo, em razão do atraso relativo que as caracteriza. Dentro de limites compatíveis com o esforço financeiro que pode realizar o País, prosseguirá o governo na recuperação técnica, econômica e financeira das estradas de ferro incorporadas à Rede Ferroviária Federal S/A.

Para a melhoria da eficiência operacional da Rede é necessária a correção das anomalias e distorções existentes na própria estrutura administrativa das ferrovias, a fim de permitir-lhes melhor coordenação com os demais sistemas de transportes e maior agressividade comercial. Assim, este ano, continuará o estímulo à criação de serviços rodoviários auxiliares, à formação de trens expressos de carga, à introdução dos chamados "auto-trens", e outras medidas apontadas na Reunião Conjunta de Diretores das Estradas de Ferro, realizada em fins do ano passado, como necessárias para que se atinjam aqueles fins.

Dentre as medidas de ordem financeira que estão sendo executadas, cabe assinalar o reajustamento tarifário em bases realistas, visando a reduzir ainda este ano o déficit, simultaneamente com a correção das distorções na estrutura de custos dos diferentes meios de transporte. Também se está dando atenção prioritária à captação de novos recursos através da alienação ou utilização de bens ociosos, tais como a venda de sucata, o arrendamento de imóveis, o aproveitamento de áreas de terreno nos centros urbanos, altamente valorizadas, pertencentes às estradas de ferro. Prossegue, com o mesmo espírito de reestruturação básica, o programa de supressão dos ramais ferroviários antieconômicos.

Remodelação da via permanente — O estado da via permanente das ferrovias federais é bastante precário, e a sua renovação se impõe, sobretudo, para permitir a criação de condições técnicas mínimas exigíveis pelas novas locomotivas que estão sendo postas em serviço. A aquisição de trilhos necessários à execução desses programas terá de ser feita no exterior, por insuficiência de produção interna. Assim, está prevista, no corrente ano, uma operação de compra, no montante de US$ 12 milhões, de trilhos provindos de áreas de moeda-convênio, atendendo aos interesses nacionais de utilização dos saldos existentes naquelas áreas, abrindo novas perspectivas para exportações.

Renovação do material rodante e de tração — A Rede Ferroviária Federal S/A ainda conta no seu parque de tração com perto de 1.500 locomotivas a vapor, a maioria com mais de trinta anos de serviço, obsoletas, cuja substituição é necessária. Também neste caso, será necessário recorrer à importação. Está igualmente programada a aquisição de vagões-tanque para suplementar o transporte de combustíveis líquidos entre Santos e São Paulo, uma vez que se espera a saturação da capacidade do oleoduto existente para o segundo semestre do corrente ano.

Sinalização e comunicações — A RFFSA adquiriu, através de financiamento do Eximbank, em 1957, 12 milhões de dólares em equipamento de sinalização, cuja aplicação até hoje não foi feita por falta dos recursos complementares em moeda nacional. Este ano, se iniciará essa instalação. A melhoria das comunicações ferroviárias é fundamental ao emprego de novas técnicas operacionais necessárias ao aumento da produtividade esperada pela RFFSA.

Remodelação e unificação dos serviços suburbanos ferroviários do Rio de Janeiro — É este um conjunto de obras de significado altamente social, por melhorar as condições de transporte suburbano para o agrupamento de mais de um milhão de pessoas, constituindo-se, também, em operação de alta economicidade, uma vez que trará a adequação técnica operacional a esse tipo de serviço, acarretando diminuição substancial do tempo e do custo de transporte. Para esse fim, já se acham em execução, pela indústria nacional, 300 carros de passageiros e terá início neste ano a remodelação das obras de arte, da via permanente e da eletrificação. Serão despendidos em 1963, neste projeto, aproximadamente 11 bilhões de cruzeiros como primeira parcela de um programa estimado em 40 bilhões de cruzeiros.

Novas construções ferroviárias — As novas construções ferroviárias, obras levadas a efeito pelo DNEF, sempre se caracterizaram por grande dispersão em inúmeros projetos, executados simultaneamente e distribuídos por todo o território nacional. Tal característica, agravada pela permanente insuficiência de recursos destinados ao conjunto das obras, vem resultando em considerável morosidade na execução e grande atraso na conclusão. Dentro de uma rigorosa programação de obras, promoverá o governo a concentração dos recursos disponíveis nas construções de maior significado econômico-social ou cujo estágio de execução permita a sua rápida conclusão e imediata utilização.

(...)

   

João Goulart
Mensagem ao Congresso Nacional
remetida pelo Presidente da República na abertura da sessão legislativa de 1963

1963

Referências

 

Brasília nos planos ferroviários (DF)
Ferrovias concedidas do plano de 1890 | EF Tocantins | Cia. Mogiana | Ferrovia Angra-Catalão | EF Goiás | Ferrovia Santos - Brasília
O prolongamento da Estrada de Ferro Central do Brasil | A ferrovia da Cia. Paulista | Ferrovias para o Planalto Central | Documentação
A idéia mudancista | Hipólito | Bonifácio | Independência | Império | Varnhagen | República | Cruls | Café-com-leite | Marcha para oeste | Constitucionalismo | Mineiros | Goianos | Projetos de Brasil | Ferrovias para o Planalto Central
 
  
    
 
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