Indústria, Viação e Obras
Públicas, 1908
Estrada de Ferro de Goyaz
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Kilom. |
Extensão em construcção |
31,600
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Com estudos approvados |
126,000
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Estudados |
667,800
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Por estudar (approximadamente) |
550,000
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Total |
1.375,400
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Gosa da garantia de juros de 6% ao anno sobre o capital empregado
na construcção, até ao maximo de 30:000$
por kilometro
(Decreto n. 6.438, de 27 de março de 1907 e contracto
de 17 de maio do mesmo anno)
Cessionaria. — Companhia Estrada de Ferro de Goyaz
A actual Estrada de Ferro de Goyaz originou-se da concessão
de uma linha que, partindo de Catalão, em Goyaz, devia dirigir-se
a Palmas, ou a outro ponto mais conveniente do curso navegavel do
rio Maranhão, no mesmo Estado. (Decreto
n. 862, de 16 de outubro de 1890. ver Ferrovias concedidas do plano de 1890)
Pelo decreto n. 1.127, de 8 de março de 1892, foi autorizada
a transferencia dessa concessão á Companhia Alto Tocantins,
e pelo decreto n. 1.670, de 8 de fevereiro de 1894, foram approvados
os estudos definitivos do primeiro trecho, com a extensão
de 100,200 kilometros.
Em dezembro de 1896, iniciaram-se os trabalhos de construcção,
que, sobrevindo diversos embaraços, em julho de 1897, foram
suspensos.
Pouco antes de começar a construcção, em 15
de novembro de 1896, inaugurava a Companhia Mogyana a sua estação
de Araguary, a 97 kilometros de distancia da cidade de Catalão,
e ao mesmo tempo iniciava os estudos definitivos entre Araguary
e Catalão, que chegaram a obter approvação
do Governo.
Em vista, porém, do alto preço kilometrico a que
attingira a construcção do trecho de Uberaba a Araguary,
não se animou a Mogyana a construir o ultimo trecho da sua
concessão (Araguary-Catalão) mediante a mesma garantia
de juros de 6% sobre 30:000$, papel, por kilometro, mórmente
por ser este ultimo trecho ainda mais pesado do que os precedentes.
Resolveu, portanto, a Companhia Mogyana estacionar em Araguary,
esperando que a linha até este ultimo ponto, com sacrificio
construida, se desenvolvesse.
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Antes, porém, que os trilhos da Mogyana chegassem a Catalão,
difficil seria a construcção da linha de Catalão
a Palmas, e por esse motivo, o Governo Federal, pelo decreto n.
4.312, de 6 de janeiro de 1903 [Lauro
Müller / Rodrigues Alves], permittiu que o praso para
a construcção do primeiro trecho fosse contado da
data em que se inaugurasse a estação da Estrada de
Ferro Mogyana em Catalão. Esse decreto, expedido em virtude
de resolução do Congresso, livrou a concessão
de incorrer em caducidade. A extensão da linha de Catalão
a Palmas foi calculada em 800 kilometros.
Caducando, após sucessivas prorogações, a
concessão que tinha a Mogyana para levar a sua linha a Catalão,
resolveu o Governo, autorizado pelo decreto n. 5.349, de 18 de outubro
de 1904, rever a concessão da Companhia Alto Tocantins, alterando
o traçado da linha, por forma que passasse Araguary a ser
o ponto inicial da estrada e a cidade de Goyaz o terminal, ficando
a companhia com o direito de construcção, uso e goso,
mediante privilegio e mais favores, excepto a garantia de juros,
de um ramal que, partindo do ponto mais conveniente da linha, terminasse
na parte navegavel do rio Tocantins.
A Companhia Alto Tocantins, já nessa época com a
actual denominação de Estrada de Ferro de Goyaz, mandou,
então, de accôrdo com o contracto, proceder aos estudos
de reconhecimento do traçado entre Araguary e Goyaz, que
foram approvados em 1906. A extensão da nova linha foi calculada
em 598 kilometros.
Pelo decreto n. 6.438, de 27 de março de 1907 [Miguel
Calmon / Affonso Penna], foi novamente alterado, porém,
o traçado da Estrada de Ferro de Goyaz, devendo o ponto inicial
ficar na cidade de Formiga ou outro mais conveniente da Estrada
de Ferro Oeste de Minas, e o terminal em Leopoldina, á margem
direita do Araguaya, em Goyaz, com um ramal para Uberaba.
Garantiu ainda o contracto á companhia o direito de construir
um ramal até á parte navegavel do rio Tocantins, mediante
todos os favores constantes da concessão da linha principal
e do seu ramal, exceptuada a garantia de juros.
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Em 17 de maio, foi assignado o contracto.
Pela clausula IV, ficou a companhia obrigada a apresentar ao Governo,
dentro do praso de seis meses, contados da data da assignatura do
contracto, os estudos de reconhecimento, de modo a habilital-o a
fixar os principaes pontos de passagem da linha tronco até
Leopoldina, e do ramal de Uberaba; e no praso de dois annos os que
permittam determinar os pontos extremos e o traçado geral
do ramal do Tocantins, de que trata a clausula I, e marcar o praso
da respectiva construcção.
Prevendo que para ponto de partida da estrada seria preferida a
cidade de Formiga, ponto terminal do prolongamento da antiga linha
de Barra Mansa a Catalão, da Oeste de Minas, ficou estipulado
na clausula XLVII que a companhia, mediante accôrdo, indemnizará
o Governo das despesas realizadas com os estudos e a construcção
do prolongamento da EF Oeste de Minas além daquella localidade.
Resolvida a alteração do traçado, a companhia
contractou, em março do anno findo, com o engenheiro Guilherme
Greenhalgh, os estudos de reconhecimento da linha de Formiga a Leopoldina,
no Araguaya, e, posteriormente, com o engenheiro Arthur Guimarães,
o reconhecimento do ramal de Uberaba.
O trecho de Formiga ao arraial de Arcos, com a extensão
approximada de 30 kilometros, construido pela antiga Companhia Oeste
de Minas, foi cedido pelo Governo à Companhia Estrada de
Ferro de Goyaz, mediante accôrdo firmado em 30 de junho de
1907, pelo qual se obrigou a companhia a entregar á directoria
da Oeste de Minas, sem direito a indemnização alguma,
2 locomotivas do typo «Consolidation», da fabrica Baldwin
Locomotive Works, para bitola de 76 centimetros, eguaes ás
que foram por essa fabrica fornecidas á Estrada de Ferro
Oeste de Minas, em dezembro de 1889; 15 vagões plataforma,
sendo 8 para bitola de um metro e 7 para a de 76 centímetros;
1.100 toneladas de trilhos de aço com os respectivos accessorios,
sendo os trilhos de 25 kilos por metro corrente e o perfil e mais
especificações fornecidos pela directoria da Estrada
de Ferro Oeste de Minas.
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É este, na integra, o novo contracto:
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A transferencia do trecho de Formiga a Arcos, da Oéste
de Minas, á Companhia Estrada de Ferro de Goyaz,
a que já tive ensejo de me referir, foi regulada
pelo seguinte termo
de accôrdo:
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Marcha dos trabalhos
Assignado o contracto, encetou a companhia, immediatamente, a reconstrução
do trecho de Formiga ao Arraial dos Arcos, com a extensão
de 30 kilometros, approximadamente.
A 31 de dezembro achava-se o leito prompto até Arcos, com
excepção de um aterro por fechar, nas proximidades
do kilometro 24, e a ponta dos trilhos alcançava o kilometro
19. Na mesma época, estavam construidas cinco casas de turma
e em via de conclusão a estação de Arcos, unica
no trecho, um barracão destinado a abrigo do material rodante
e uma pequena officina para reparações ligeiras do
mesmo material. A linha telegraphica, que é dupla, de accôrdo
com o contracto, acompanhava o avançamento da estrada. No
kilometro 17 (Morro das Balas), montou-se uma caixa para alimentação
das locomotivas.
Num dos primeiros mezes do corrente anno, foi entregue ao trafego
esse primeiro trecho.
Além de Arcos, embora existissem trabalhos de terraplenagem
já feitos até S. Francisco, houve necessidade de abandonar
o antigo traçado da Estrada de Ferro Oeste de Minas, por
ficar a linha exposta a inundações.
A companhia mandou proceder a novos estudos, apresentando, em 24
de agosto, á approvação do Governo o reconhecimento
do trecho de Arcos a Soledade, á margem do rio S. Marcos,
com a extensão de 528,800 kilometros. Pelo aviso n. 331,
de 3 de outubro, foram approvados esses estudos, sendo escolhidos
para pontos de passagem Porto Real do S. Francisco, Bambuhy, Carmo
do Paranahyba, Lagôa Formosa, Patos e Capellinha.
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Vencendo-se em 17 de novembro o praso do contracto para apresentação
do reconhecimento do traçado até Leopoldina, no Araguaya,
e não o tendo a companhia concluído, por motivos justos,
foi-lhe concedida para esse fim uma prorogação de
quatro mezes.
Os estudos de reconhecimento do ramald e Uberaba, tendo como ponto
de origem o kilometro 157 da linha tronco e medindo cêrca
de 265 kilometros, foram apresentados em 2 de outubro e approvados
pelo aviso n. 367, de 13 de novembro, tornando obriatoria a passagem
da linha por S. Jeronymo de Poções e Araxá.
Descripção do traçado da linha principal
Partindo de Arcos, dirige-se a linha para a serra do Urubú,
subindo pelo rio Jacuba até transpôr a cumiada da serra,
no kilometro 147, á altitude de 1.135 metros. Dahi passa
para as vertentes do Paranahyba, pelos tributarios Misericordia
e Quebra-Anzol, desenvolvendo-se pelo alto da serra até ao
kilometro 157, ponto julgado mais conveniente para começar
o ramal de Uberaba, acompanhando o valle do rio Misericordia.
Do kilometro 157 em diante, continúa a linha pela serra,
até ao kilometro 183, onde alcança a altitude de 1.163
metros, ponto culminante do traçado e,depois de atravessar
um trecho de nove kilometros da afamada e extensa «Matta da
Corda», no espigão que separa as aguas dos rios S.
Francisco e Paranahyba, acompanha o divisor das aguas destes dois
rios, passando, no kilometro 234, á distancia de quatro kilometros
da cidade do Carmo do Paranahyba. Contornando a lagôa S. Bento,
desce, a partir do kilometro 243, para o ribeirão S. Bartholomeu,
subindo em seguida, até transpôr a garganta que verte
para um affluente do rio Babylonia. Atravessado este, prossegue
a linha em demanda do ribeirão dos Patos, no kilometro 365.5
e, em seguida, em direcção á cidade de Patos.
Alcançada, no kilometro 298.7, esta localidade, desce, para
o rio Paranahyba, margeando-o pela direita,em um percurso de 24
kilometros, até á confluencia do rio Onça.
Sobe por este até transpôr as vertentes para o lado
do rio Pirapitinga e, depois de atravessal-o no kilometro 237,9,
torna a subir em demanda das vertentes do corrego Burity, até
attingir o alto da serra, que fica á altitude de 1.014 metros.
Desenvolve-se pelo alto, até ao kilometro 363.2, descendo
até á cota 880. Neste trecho será preciso empregar
a rampa de 2,5% para vencer a differença de nivel e ganhar
as vertentes do Jacaré, na garganta do Carrapato, onde será
transposta a serra de Santa Cruz, por uma rampa tambem de 2,5% na
extensão de 6.800 metros, até attingir a cota 990.
Desse ponto descerá a linha pelo ribeirão Batalha
até á sua foz, no rio S. Marcos, que está a
969 metros de altitude. De Arcos ao S. Marcos ha um percurso de
560.400 metros.
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As maiores declividades foram attingidas nos trechos seguintes:
2%, para descer de Arcos ao Candonga;
1.9%, rampa média, na serra do Urubú;
2.5%, do kilometro 363 a 365 e de 423 a 430.
As obras de arte, com excepção da ponte de 70 metros
de vão sobre o rio S. Francisco; da de 40 metros sobre o
rio Perdição e das de 25 e 20 metros sobre os rios
Bambuhy e Tres Barras, não têm grande importancia.
Traçado do ramal de Uberaba
A linha parte do kilometro 171, e toma a direcção
do ribeirão Tamanduá, que atravessa no kilometro 180.3,
a 937 metros de altitude, subindo pela margem direita, até
transpôr uma garganta que dá para as aguas do Jacuba,
á altitude de 1.080 metros, donde desce pelo ribeirão
S. Matheus, até a cota 950.
Continúa a descer até ao kilometro 206, passando
para as aguas do Quebra-Anzol, no kilometro 212, á altitude
de 900 metros e, depois de atravessar este rio, sobe pelo espigão
que divide das suas as aguas do Misericordia, até á
garganta do Bananal, na cota 939, descendo pelo Misericordia, e
atravessando-o, pouco além do kilometro 221, a 878 metros
de altitude. Segue cortando outras correntes, entre ellas o Quilombo,
no kilometro 230, cota 899, e o Goritas, até S. Jeronymo,
no kilometro 254.
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De S. Jeronymo de Poções a linha sobe, até
apanhar a linha tronco no kilometro 157, a 1.150 metros de altitude,
com um desenvolvimento total, a partir de Uberaba, de 265 kilometros,
sendo a rampa maxima de 2,5%.
As mais importantes obras de arte são: duas pontes de 50
metros de vão, sendo uma sobre o rio Misericordia e outra
sobre o Quebra-Anzol; uma de 30 metros sobre o Tamanduá e
nove pontilhões de diversos vãos.
Nucleos coloniaes
Achando-se concluidos os estudos definitivos de Arcos ao kilometro
157, na extensão de cerca de 126 kilometros, devia a companhia,
de accôrdo com o contracto, apresentar os planos para a construcção
dos cinco nucleos coloniaes correspondentes aos 100 primeiros kilometros.
Baseada, porém, na informação prestada pelo
seu engenheiro chefe, de que a zona atravessada pela estrada, até
pouco além de Bambuhy, na extensão de 100 kilometros,
não se presta para cultura de qualquer especie, pediu dispensa
ao Governo de dar cumprimento a essa disposição do
contracto.
Não concordando, porém, com as da companhia as informações
do engenheiro fiscal da estrada, incumbi a Directoria do Povoamento
de estudar a questão, aguardando o seu parecer para deliberar
sobre o pedido da companhia.
Sobre este assumpto, assim se pronuncia em seu relatorio o engenheiro
fsical: «Conhecedor da producção de toda aquella
região, a minha ifnormação não podia
ser, como não foi, favoravel á pretenção
da companhia. Existem, em toda a extensão da linha estudada,
dentro de uma faixa de 12 kilometros de cada lado do eixo da estrada,
mattas de primeira qualidade, proprias a todas as culturas, e nem
os campos, cerrados e cerradões atravessados são improductivos;
bem longe estão disso.
A estrada tambem não passa a distancia de seis kilometros
das mattas dos Pains, como suppõe e informa o engenheiro
chefe da companhia. A linha atravessa uma extremidade de matta,
na extensão que medeia entre o ribeirão Candonga e
o rio S. Miguel. As terras ahi são de uma fertilidade pouco
commum, bastando, para confirmar esta asserção, dizer
que um alqueire de milho plantado produz, quasi sem trabalho, 400
alqueires.
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É certo que, devido ás grandes massas calcareas existentes,
as aguas, em geral, participam da natureza do terreno, sendo, ora
mais, ora menos, calcareas, o que não impede que existam
aguas doces. Na fazenda S. Miguel, por exemplo, quasi ao lado de
nascentes de aguas calcareas, encontram-se nascentes de aguas doces.
O rio S. Miguel é de aguas calcareas; quanto, porém,
essas aguas podem ser nocivas á saude, só pela analyse
chimica se poderá avaliar.»
Parte financeira
Por despacho de 12 de novembro de 1906, vigorando ainda o decreto
n. 5349, de 18 de outubro de 1904, foi a companhia autorizada a
depositar na «Banque Française pour le Commerce et
l'Industrie» 10% sobre o capital total julgado necessario
á construcção da estrada. Computando-se a extensão
em 500 kilometros e o capital em 15.000:000$, foi o deposito fixado
em 1.500:000$, correspondentes a frs. 4.249.291.
Por despacho de 19 de abril do anno findo, foi autorizado, a pedido
da companhia, novo deposito de capital na «Caisse Générale
de Reports et des Dépots», para a construcção
de 100 kilometros, na importancia de 3.000:000$, ou frs. 8.498.583.
Tem, portanto, a companhia, nos dois bancos acima mencionados,
depositos autorizados e vencendo juros do governo na importancia
total de 4.500:000$, ou frs. 12.747.874.
Pela clausula XXXIV do contracto, o segundo deposito deverá
ser applicado á construcção da estrada dentro
do praso de um anno da data em que foi feito, cessando o pagamento
dos juros para a parte do mesmo que não tiver sido applicada
na construcção, e emquanto o não fôr.
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