Relatório Cruls, 1894
Conclusão
(Ferrovias e desenvolvimento)

p. 111

(...)

É innegavel que até hoje o desenvolvimento do Brazil tem-se sobretudo localisado na estreita zona do seu extenso littoral, salvo, porém, em alguns de seus estados do sul e que uma área immensa de seu territorio pouco ou nada tem beneficiado d'este desenvolvimento. Entretanto, como demonstra a exploração á qual procedeu esta Commissão, existe no interior do Brazil uma zona gozando de excellente clima com riquezas naturaes, que só pedem braços para serem exploradas.

Não conviria, pois, procurar dar áquella immensa região a vida que lhe falta?

Sem entrarmos aqui em considerações de ordem politica e administrativa, que não são da nossa competencia, muitas razões há que aconselham a mudança da Capital Federal para um ponto do interior do territorio.

Entre ellas salienta-se o incontestavel beneficio que d'ahi resultará para toda essa immensa região central, á qual faltou até hoje a indispensavel vitalidade para que pudesse desenvolver e progredir convenientemente.

Para ella convergiriam então as principaes estradas de ferro, que seriam como que as arterias ligando-a não só aos principaes portos do littoral como tambem ás capitaes dos diversos estados.

Em summa, julgamos desnecessario insistir nas vantagens que para o desenvolvimento e progresso futuro do paiz hão de indubitavelmente resultar da realisação d'esse projecto, ora submettido á deliberação definitiva dos Representantes da Nação.

Quanto aos inconvenientes ou desvantagens que d'essa medida pódem provir, acreditamos que elles só existem na imaginação de um pequeno numero de pessoas pouco propensas ás idéas progressistas e que considerando insuperaveis as difficuldades que lhe são inherentes, acham preferivel não sahir dos trilhos da velha rotina, esquecendo-se que esta é incompativel com todo e qualquer progresso.

Uma objecção á mudança da Capital Federal para a região do Planalto temos ouvido formular varias vezes, unica que nos parece digna de ser refutada, é a da distancia.

Ora, como já tivemos occasião de dizel-o em artigos publicados na imprensa diaria d'esta Capital, esta objecção não tem fundamento algum.

De facto, sendo a distancia a vol d'oiseau entre esta Capital e o centro da zona demarcada de cerca de 970 kilometros, será sempre possivel construir-se uma estrada de ferro, cujo traçado no seu desenvolvimento total não excederá essa distancia de mais de 25%, isto é, terá no maximo 1.200 kilometros.

Esta distancia poderá facilmente ser vencida em 20 horas, admittindo para os trens de passageiros uma velocidade média de 60 kilometros por hora, incluindo paradas, etc., velocidade esta inferior de 50 a 60% ás velocidades maximas attingidas em diversas ferro-vias norte-americanas.

p. 112

Provado, pois, como está, por esses algarismos, que se poderá percorrer a distancia entre a nova Capital e o porto do Rio de Janeiro, em vinte horas, vê-se que a objecção da distancia não é sustentavel.

De semelhante estrada de ferro, com um traçado o mais directo possivel, não poupando as necessarias obras d'arte, dependerá o bom ou o mau exito do importante projecto da mudança da Capital Federal, encarado pelo lado dos beneficios que sua realisação póde trazer para o desenvolvimento da região central do Brazil.

É certo, pois, que assim ligada ao porto do Rio de Janeiro, a futura Capital Federal não tardará a tornar-se um centro industrial e commercial, cuja vitalidade será um factor importante e poderoso para a futura prosperidade d'este rico paiz.

   

Relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil
Relatório Cruls
Rio de Janeiro, 1894
(Codeplan, Brasília, 1992)

1ª Missão Cruls – 1892-1893

Índice
Introdução
Carta de Glaziou
Índice das fotos
Relatório
Pessoal
Ferrovias e desenvolvimento


2ª Missão Cruls – 1894-1895

Instruções (1894)
Pessoal e itinerários
Trabalhos
Ferrovia Catalão-Cuiabá
Ofício Cruls
O local quase escolhido
Relatório de Glaziou


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A via Cruls, by Pimentel
Louis Ferdinand Cruls

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Referências

1ª edição: 1894: H. Lombaerts & C., impressores do Observatorio: Rio de Janeiro. O conjunto completo dos mapas compõe um volume separado — Atlas dos itinerários, perfis longitudinais e da zona demarcada.

Antes, uma versão "parcial" havia sido apresentada ao governo e publicada no Diário Oficial da União (jun. 1893). Raramente é citado, por conter os mesmos dados do "Relatório completo", também conhecido como "Relatório Cruls".

2ª edição: 1947

3ª edição: 1957

4ª edição: 1984

5ª edição: 1987

6ª edição: 1992: Codeplan: Cia. do Desenvolvimento do Planalto Central / Governo do DF [Excluída a versão francesa. Inclui apenas 17 mapas selecionados do 2º volume (Atlas)].

Relatório & relatório

Trata-se do famoso "Relatório Cruls" (1894), referente à 1ª Missão Cruls (1892-1893), durante o governo Floriano Peixoto. Também indicado na época como "Relatório completo", para diferenciá-lo de outro "parcial", anterior (1893), publicado no Diário Oficial da União.

Porém, referências a um "relatório parcial" indicam, quase sempre, o da 2ª Missão Cruls (1894-1896), que nunca chegou a ter edição "completa", e aparentemente jamais foi reeditado.

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