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Relatório da segunda Missão Cruls, 1896
O local quase escolhido
Flavio R. Cavalcanti
Neste trecho do relatório da segunda Missão Cruls, transparece certa oposição proativa à decisão do Congresso e do governo Prudente de Morais de encerrar os estudos do planalto central, quando o grupo integrado por cientistas de renome e jovens militares positivistas se oferece para continuar os trabalhos sem qualquer remuneração, exceto o soldo regular.
No terceiro parágrafo, o registro da proposta preliminar de dois sítios para a construção da futura capital da República o platô entre os rios Gama e Torto (onde Brasília acabou sendo construída, de fato) ou, como alternativa, o vale do rio Descoberto.
Comissão de Estudos da Nova Capital da União. Relatório
Parcial,
Typo-lith. Carlos Schmidt, Rio de Janeiro, 1896
cf. Ronaldo Rogério de Freitas Mourão. Luiz Cruls: notas biográficas
Rio de Janeiro, Animatógrafo / Brasília, Verano Editora, 2003, p.
54-57
Pelos relatórios parciais apresentados pelos respectivos chefes de serviço
e de turma, ver-se-á que, eficazmente auxiliado pelo pessoal desta Comissão,
como temo-lo sido por ocasião da Comissão Exploradora, a soma de
trabalhos executados em 18 meses, em região muitas vezes falha de recursos,
encontrando dificuldades sem número, nem por isso deixou de ser considerável,
sendo apenas para lastimar que não havendo verba consignada no orçamento
vigente para os nossos trabalhos, fosse o governo obrigado a mandar suspendê-los.
Atendendo, porém, que se tratava de assunto previsto na Constituição,
e ao qual se ligam os mais altos interesses do país, oferecemos em nome
de todo o pessoal desta Comissão, prosseguirmos nos trabalhos, contanto
que o governo solicitasse do Congresso os necessários créditos para
o custeio das despesas durante o atual exercício, oferecimento que foi
aceito pelo governo. Graças a esta solução altamente patriota,
continuam atualmente os trabalhos confiados a esta Comissão, tendo-se apenas,
para reduzir o quanto possível as despesas, substituindo,
nos estados [estudos!] da nova capital, os
trabalhos de campo pelos de escritório e prosseguindo com os trabalhos
de reconhecimento da estrada de ferro de Catalão
a Cuiabá.
(...)
A escolha definitiva do local dentro da zona demarcada, e que reunisse a maior
soma de condições indispensáveis para edificação
da futura capital, depende agora apenas da conclusão de alguns trabalhos,
que dizem respeito ao abastecimento d’água e aos quais se estava procedendo
em fins do ano próximo passado, e tendo por fim a determinação
exata da altitude relativa de algumas cabeceiras, assim como a respectiva despesa
d’água. Sob o ponto de vista da qualidade, abundância d’água,
natureza e topografia do terreno, salubridade e condições climatológicas,
é provável que esta escolha se fixe definitivamente quer na região
compreendida entre os rios Gama e Torto [bacia
do Paranoá], quer no vale do rio Descoberto.
Esta escolha, porém, só se fará depois de mais apurado exame
das vantagens que uma e outra região apresentam.
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