Estação de Brasília
Esperando o trem
A Estação Ferroviária foi situada por Lúcio
Costa — dentro do plano
piloto de Brasília — na extremidade oeste do Eixo
Monumental, atendendo à logística militar, ao
abastecimento da cidade e ao suprimento da pequena indústria
local:
4 – Como decorrência dessa concentração
residencial, os centros cívico e administrativo, o setor
cultural, o centro de diversões, o centro esportivo,
o setor administrativo municipal, os quartéis, as zonas
destinadas a armazenagem, ao abastecimento e às pequenas
indústrias locais, e, por fim, a estação
ferroviária, foram-se naturalmente ordenando e dispondo
ao longo do eixo transversal que passou assim a ser o eixo monumental
do sistema (fig.
4) [Relatório
do Plano Piloto de Brasília].
Pelos padrões do mundo desenvolvido do pós-guerra,
à Estação Ferroviária da futura capital de
um país tão vasto estaria destinado, além de tudo,
um papel primordial na conexão com todas as regiões — colonizadas
ou por colonizar. E essa perspectiva se apresentava natural, em 1956.
Sucessivos projetos e debates — desde a proposta consolidada
por Varnhagen
em 1877 e o Plano
Geral de Viação do início da República,
em 1890 — vinham lançando ferrovias em direção
à futura capital. A linha federal da Cia. Mogiana, até
o Triângulo Mineiro, e o tronco de Angra dos Reis a Catalão,
em conexão com a EF Goiás, já haviam levado
os trilhos até Anápolis. Desde 1922 a EF
Central do Brasil havia atravessado o rio São Francisco
em Pirapora, visando o planalto central. A Cia. Paulista também
não se negava a estender os trilhos até Brasília.
E a nova capital acenava — à
direita, como à esquerda — como uma plataforma para
novos avanços em direção ao oeste e à Amazônia.
A Estação de todos os trens
Dentro dessa visão — que nenhum motivo justificava cancelar, ainda
em 1970 —, Oscar Niemeyer projetou a Estação Ferroviária de Brasília para
receber trens de passageiros dos oito pontos cardeais.
Seu volume horizontal, extenso, e uma fileira de janelas espaçadas
de forma regular, sugerem um longo trem de passageiros. Discreta, camuflada
entre árvores numa baixada, é praticamente invisível
mesmo a quem desce o Eixo Monumental
direto a ela.
Expandindo-se por baixo dos trilhos, prevê serviços e ligação
para cinco plataformas — permitindo embarque e desembarque em uma dezena
de trens ao mesmo tempo.
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Vocação inútil
Projetada e construída dentro de uma perspectiva racional,
porém jamais concretizada — o desenvolvimento ferroviário do Brasil
—, a Estação de Brasília ainda não pôde desempenhar
sua função.
Concluída antes de 1976 (possivelmente março
de 1974), permaneceu fechada — sem trilhos, de um lado, sem acesso ou urbanização
do outro — durante alguns anos. Em 1979, o único trem de passageiros ainda
tinha como terminal a estação provisória Bernardo
Sayão, 17 km linha abaixo, nas proximidades do Núcleo
Bandeirante.
Sua primeira função — ainda hoje a principal
— decorreu de um convênio com o governo do Distrito Federal (GDF), para
utilização como terminal rodoviário interestadual.
Até então, ônibus
de longa distância utilizavam a plataforma oeste da
Rodoviária, no centro da cidade — conforme o plano
piloto de Brasília. A expansão e multiplicação
das cidades satélites,
porém, exigia um número crescente de novas
linhas urbanas, e se decidiu remover o terminal interestadual
para o prédio da Estação Ferroviária.
Em troca, o GDF urbanizou a área em torno da Estação
— o que, de resto, era previsto desde
27-7-1970.
Nos primeiros anos da nova função, os ônibus
interestaduais manobravam e se sucediam na via de serviço subterrânea,
onde o público respirava a poluição resultante. As reclamações
fizeram com que, mais tarde, se instalassem grandes exaustores — afinal, insuficientes
para tornar respirável o ar da via subterrânea.
As plataformas (1 e 2) permaneciam ferroviárias,
recebendo e despachando o Trem Bandeirante
— reinaugurado em 1981 —, uma vez
por semana, salvo ocasiões excepcionais.
O Bandeirante tornou a ser suspenso em 1992, e a partir de
então os trilhos entre as duas plataformas foram retirados, o espaço
aterrado e asfaltado, passando para ali o embarque /
desembarque dos ônibus interestaduais.
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