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Varnhagen e a localização da
capital
... vamos encaminhando
para ella as estradas de ferro
Flavio R. Cavalcanti
Em sua carta
ao ministro da Agricultura, a pretexto de bons sítios para
a imigração européia, datada da "Villa
Formosa da Imperatriz, em Goyaz, 28 de Julho de 1877",
Varnhagen sugere que se comece a fazer convergir para o Planalto
Central as estradas de ferro Central
do Brasil (então, EF D. Pedro II) e Mogiana (linha
de Casa Branca).
De quebra, traça o caminho que — de fato — foi seguido,
uma geração depois, pela Estrada
de Ferro Goiás; e, 90 anos mais tarde, pela Ligação
Pires do Rio - Brasília:
(...) parece-me que é digna de merecer
desde já a devida attenção dos poderes publicos
do Estado, fazendo convergir para ella todas as communicações,
começando pela continuação
da estrada de Pedro 2°, levando-a talvez de preferencia
pelo Paraopeba, Rio S. Francisco e Urucuya, cujas cabeceiras se
acham mui perto desta villa. Tambem a linha de Casa Branca se
poderia desde já para esta paragem encaminhar, seguindo
algumas vertentes, a buscar, pelo caminho mais facil, a foz do
Corumbá no Paranahiba, para subir depois aquelle rio e
o S. Bartholomeu, até as cabeceiras deste. (...)
É mais do que um palpite. Como engenheiro, e como diplomata
atento aos desenvolvimentos técnicos e econômicos
da Europa e Estados Unidos, Varnhagen vai além deste ou
daquele traçado específico — propõe mudanças
radicais na forma como eram concedidas e implantadas ferrovias
no Brasil:
Eu julgo, Exmº Sr, que, se fosse necessário,
até por uma lei applicavel ás proprias estradas
de ferro provinciaes, deviamos de todo abandonar o systema de
as decretar e conceder para unir entre si povoações,
ainda de insignificante commercio e trafico, com grandes gastos
de aterros e desaterros, aplanando montes e valles, e que nos
conviria adoptar de preferencia o principio de ir beirando os
rios, sem nenhuns gastos de nivellamento, e com muito maior proveito
da agricultura em geral, como succede á que segue o valle
do Parahiba. E creio, firmemente que nesta quasi preferencia das
margens dos rios, ajudando assim a natureza, que se limitou a
abrir os leitos, mais ou menos nivellados, deixando caxoeiras,
que mais custaria a quebrar do que a vencer lateralmente pelas
estradas de ferro, está o grande segredo do desenvolvimento
das mesmas estradas de ferro no Brazil; pois novas cidades, muito
mais importantes que as actuaes, poderão vir a surgir ao
lado dellas como por encanto. Isto não obstaria a que a
dessas grandes arterias se fizessem divergir ramaes para as cidades
visinhas, mais ou menos importantes.
É, sob todos os aspectos, uma receita americana
— economizar no custo inicial, atrair imigrantes, produzir carga
comercial, criar novas cidades.
De volta ao posto diplomático em Viena, Varnhagem publicou
em 1877 o livreto A
questão da capital: marítima ou no interior?,
de apenas 32 páginas, onde reuniu todas as informações
e argumentos, terminando por reiterar:
Mas se não podemos já transferir
a capital, e não queremos ainda formar, na paragem indicada,
uma colonia, ao menos seja ella desde já examinada e mapeada,
e vamos encaminhando para ella as estradas de ferro.
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