Elos perdidos da "idéia"
mudancista
O Oeste de Minas
Flavio R. Cavalcanti
A construção da Noroeste do Brasil
rematou cerca de meio século de discussões sobre
a ligação ferroviária entre Mato Grosso e
o litoral — discussões iniciadas em 1851
com um projeto de lei que autorizava o governo imperial a conceder
a uma companhia o "privilégio exclusivo" para
a construção de uma ferrovia entre a Capital do
Império e a cidade de Vila Bela da Santíssima Trindade
(MT), passando pelas cidades de S. João
d'El Rei, Goiás e Cuiabá (Sá,
Chrockatt de. Parecer apresentado ao Conselho Diretor pelo
engenheiro... [em 24 de julho de 1904]. Revista do Club de
Engenharia, Rio de Janeiro, nº 15, p. 5-36, 1907, p. 6).
[Queiroz, PRC, p. 18].
Primeiro, é Paula Cândido que, em
1851, apresenta à Assembléia
Geral projeto permissivo de concessão de estrada por São
João d'El Rei, Goiás e Cuiabá [Chrockatt
de Sá, cf. Correa
Filho, Virgílio. Grandes vultos da nossa engenharia
ferroviária. in I Centenário das ferrovias brasileiras.
IBGE, Rio de Janeiro, 1954].
[obs.: ao criticar o rumo de Juiz de Fora como
(estéril?), Ottoni de fato se referia a algo além
da região de BH (que não existia, sequer em projeto);
opunha-se na verdade à substituição do tronco
"central" — por Goiás, para oeste — por um tronco
essencialmente "norte", fosse pelo rio São Francisco,
fosse para Belém, ou mesmo pela Diamantina para a Bahia.
O deslocamento, além de atender interesses muito particulares
de Mariano Procópio (aliás, aparentemente oposto
à elite de sua própria região), deixava caminho
livre para a expansão paulista no sul de Minas, no Triângulo
Mineiro, em Goiás e Mato Grosso (ver efcbPirapora]
Em 1928, pensando nas vantagens desse caminho
direto sem entraves das bitolas, propriedade e administração
diferentes, lembrei a criação da EF Oeste do Brasil,
fusão dos EF de Goiás e Oeste de Minas, ambas de
propriedade e então diretamente administradas pela União,
dando dessa forma vida ao velho plano de Paulo Cândido,
lançado em 1851 [Archimedes M. Monteiro
Bastos. Trabalhos
ferroviários e rodoviários para a ligação
de Goiás com o litoral e os Estados de Minas, S. Paulo
e Rio. O Globo, 12 de março de 1934, p. 6, cf.
AH2:258-260].
A idéia da construção de
uma estrada de ferro para solucionar, de vez, o tão complicado
problema, surgiu em 9 de maio de 1851.
Na Assembléia Geral, o deputado Paula Cândido apresentava
um projeto autorizando o governo imperial a dar privilégio
exclusivo a uma companhia que construísse e explorasse
uma estrada de ferro que ligasse a capital do país com
as cidades de Mato Grosso, passando por São
João d'El-Rei, Goiás e Cuiabá. Mas
esse plano foi relegado ao esquecimento e não mereceu o
estudo e a atenção da parte do governo [Correia
das Neves. História da Estrada de Ferro Noroeste do
Brasil, p. 13].
(...) hipótese investigativa formulada,
originalmente, por Alcir Lenharo
na obra As tropas da moderação,
editada em 1978. Naquela ocasião, o historiador propunha
que durante o governo joanino tinham se consolidado posições
econômicas e políticas de grupo de negociantes
de grosso trato radicado no centro-sul da América
portuguesa, desde os fins do século XVIII. Esse segmento
aliou-se a burocratas e nobres emigrados constituindo as bases
de sustentação de D. João VI e, posteriormente,
de D. Pedro. Com a Abdicação, o poder teria mudado
de mãos, dada a projeção de outros setores
proprietários e mercantís, particularmente os vinculados
às rotas de abastecimento interno e à pequena e
média propriedade. Entretanto, entre os fins da
década de 1830 e a década de 1840, teria ocorrido
um retorno às bases sociais do Estado do primeiro reinado
e a Lei de Interpretação, articulada à reativação
do poder moderador e do Conselho de Estado, indicariam esse movimento
que ficou conhecido como “regresso”
[Cecilia Helena de Salles Oliveira. Imbricações
entre política e interesses econômicos: A complexa
definição dos fundamentos da monarquia no Brasil
da década de 1820 (Abphe_2003_98)].
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