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Agenda do Samba e Choro
A caravana do engenheiro Balduíno, da Estrada de Ferro Goiás, em Planaltina, então chamada Mestre d'Armas
A caravana do engº Balduíno Almeida, da Estrada de Ferro Goiás, em Mestre d'Armas (Planaltina) [cf. Adirson Vasconcelos]

A Pedra Fundamental de Brasília

Projeto
Comissão de Constituição
Voto em separado
Comissão de Finanças
Primeira discussão
Decreto nº 4.494
Lançamento
Americano do Brasil propõe administração do novo DF
Projeto de administração
   do futuro Distrito Federal

Americano do Brasil
  defende o projeto

Depoimento

Carta de Marcelino Rodrigues Machado, antigo deputado pelo Maranhão, a Israel Pinheiro, presidente da Novacap, in revista brasilia, Rio de Janeiro, 1957, nº 9, p. 13 [cf. AH2:27-28]

Desempenhava eu em 1921 o mandato de deputado federal pelo Maranhão e, partidário da mudança da capital para o planalto central, não queria que a passagem do 1º Centenário da nossa Independência decorresse sem uma manifestação inequívoca da persistência dessa aspiração, consignada na Constituião. Nesse sentido apresentei um projeto de lei determinando a colocação da pedra fundamental, no dia 7 de setembro, no local então escolhido, o qual se converteu no Decreto Legislativo nº 4.494. Assinou também o meu projeto, como homenagem ao Estado de Goiás, o meu querido e saudoso colega e amigo Americano do Brasil, representante goiano, o que se pode verificar nos Anais da Câmara dos Deputados, vindo a sua assinatura em segundo lugar. O governo do grande Epitácio Pessoa fez executar essa sugestão por intermédio do Inspetor Federal das Estradas, que para isso mandou fundir no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo a seguinte placa: « Sendo Presidente da República o Exmº Sr. Dr. Epitácio da Silva Pessoa, em cumprimento ao disposto no Decreto 4.494, de 18 de janeiro de 1922, foi aqui colocada em 7 de setembro de 1922, ao meio-dia, a Pedra Fundamental da futura Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil. »

O diretor da Estrada de Ferro de Goiás, engenheiro Balduíno, cumpriu o disposto em lei e, construindo um marco sobre a pedra fundamental, colocou numa das faces a placa acima mencionada, sendo o mesmo inaugurado, rigorosamente, ao meio dia de 7 de setembro de 1922.

Como meu representante no lançamento da pedra fundamental compareceu o sr. Zelmires Reis, residente em Santa Luzia, a quem dirigi o telegrama seguinte: « Por indicação colega Americano do Brasil, companheiro apresentação projeto que se converteu Decreto 4.494, peço-vos obésquio representar-me, lançamento pedra fundamental futura capital federal no planalto goiano ».

A 8 de setembro recebia esta resposta: « Honroso mandato cumprido. Cumprimentos. Zelmires ».

Despesa

Coleção das Leis da República dos Estados Unidos do Brasil de 1922,
v. IV, p. 58 [cf. AH2:29]

Decreto nº 15.735, de 18 de outubro de 1922

Abre ao Ministério da Viação e Obras Públicas o crédito de 16:508$550 (dezesseis contos quinhentos e oito mil quinhentos e cinqüenta réis), a fim de atender às despesas com os serviços executados para o assentamento da pedra fundamental da futura capital da União, conforme determinou o art. 2º do referido decreto legislativo.

Rio de Janeiro, 18 de outubro de 1922, 101º da Independência e 34º da República

Epitácio Pessoa.
J. Pires do Rio.

Bibliografia
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Bibliografia
braziliana

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Bibliografia

• Índice das revistas Centro-Oeste (1984-1995) - 13 Set. 2015

• Tudo é passageiro - 16 Jul. 2015

• The tramways of Brazil - 22 Mar. 2015

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• Caminhos de ferro do Rio Grande do Sul - 20 Nov. 2014

• A Era Diesel na EF Central do Brasil - 13 Mar. 2014

• Guia Geral das Estradas de Ferro - 1960 - 13 Fev. 2014

• Sistema ferroviário do Brasil - 1982 - 12 Fev. 2014

   

Pedra Fundamental de Brasília - 7 de Setembro de 1922
“Uma pedra por cima...”

Flavio R. Cavalcanti
As informações contidas nesse texto foram encontradas, até o momento,
apenas em Adirson Vasconcelos, cujas fontes não são indicadas

«Afinal esta história de capital no planalto tem uma pedra por cima...»
[Duque Estrada, em artigo citado por Americano do Brazil, cf. Adirson Vasconcelos]

O assentamento da pedra fundamental da futura capital, no Centenário da Independência, a 7 de setembro de 1922, bem poderia ter sido — como sugeriu Duque Estrada — o sepultamento definitivo da ideia, com a colocação de "uma pedra por cima".

O mero relato da expedição Balduíno, na época, deveria causar no Rio de Janeiro uma péssima impressão sobre o local escolhido para a futura capital — tantas seriam as dificuldades encontradas para a realização de uma tarefa aparentemente simples.

Pior do que o relato dessas dificuldades, só se chegasse ao Rio de Janeiro a notícia de um fracasso em desempenhá-la na data marcada.

Hoje, esse relato deixa uma impressão difícil de definir, entre a simples falta de planejamento e a hipótese mais complicada — mas possível, até provável — de um tropeço bem planejado e simples, articulado em algum ponto da "cadeia de comando" do governo.

   
Capa do livro “A mudança da capital”, de Adirson Vasconcelos
Capa do livro “A mudança da capital”,
de Adirson Vasconcelos

Missão impossível

Assinado o decreto em janeiro de 1922, somente a 27 de agosto — faltando 10 dias para o Centenário — o diretor da Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari (MG), foi informado, por telegrama, de que o ministro da Viação e Obras Públicas o havia encarregado de erguer um monumento no Retângulo Cruls, a 450 km dali, e inaugurá-lo de forma solene, exatamente ao meio-dia de 7 de setembro.

O telegrama do inspetor-geral de Estradas de Ferro, Palhano de Jesus, informava que uma placa de bronze acabava de ser encomendada, na véspera (!), ao Liceu de Artes e Ofícios, em São Paulo, que após fazer o molde e fundi-la, deveria enviá-la a Araguari. Tudo o mais, da construção do monumento até a organização do evento, ficava por conta do engº Balduíno:

« Faltava-me tempo para pensar; para agir ainda pouco era o tempo... »

A solução prática e rápida foi projetar uma pirâmide-obelisco de pedras artificiais, e apenas montar o conjunto no local. Feitas as fôrmas e vasado o concreto, as “pedras” ficaram prontas em 31 de agosto.

A ferrovia, porém, chegava só até Ipameri (GO), 150 km além de Araguari, porém ainda a 300 km do Retângulo Cruls. Para transportar de Ipameri em diante as pedras (5 toneladas), cimento, ferramentas, pessoal, comitiva e alimentos para 15 dias, fretou 5 automóveis "Ford Bigode" e 6 caminhões. Esgotada a frota automobilística de Araguari, outros 4 automóveis tiveram de ser fretados em cidades vizinhas.

A placa encomendada em São Paulo chegou às 10h30 da manhã de 1º de setembro. Às 11h, partiu de Araguari o trem especial com toda a comitiva, as "pedras" de concreto, cimento, ferramentas, alimentos, e os 15 veículos fretados, chegando a Ipameri ao anoitecer.

A baldeação da carga dos vagões para automóveis e caminhões tomou toda a noite e parte da madrugada. Quase ninguém dormiu. Às 5h da manhã do dia seguinte, 2 de setembro, a caravana — reforçada por mais 2 "Ford Bigode" — iniciou a segunda parte da viagem.

Nas primeiras 7 horas foram percorridos apenas 20 km, com os caminhões estacando a cada momento, nas grandes rampas que tinham de vencer [Com sorte, talvez a estação das chuvas ainda não houvesse começado]. No total, no primeiro dia de viagem, das 5h às 21h, foram vencidos apenas 76 km.

No segundo dia, 3 de setembro, a caravana avançou mais 84 km até o cair do sol, quando chegou ao povoado de Cristalina. Segundo as informações locais, a partir dali a estrada não apresentaria grandes problemas. Balduíno, que vinha à retaguarda, decidiu, acossado pelo tempo, seguir à frente com os "Ford Bigode", deixando os caminhões seguirem atrás da caravana. Tarde da noite, chegou ao arraial de Mestre d'Armas [Planaltina], fixado como referência, e que seria a base dos trabalhos.

O dia 4 foi empregado — entre outras coisas — a escolher o local para o monumento. O engenheiro visitou o córrego Acampamento [acampamento da 2ª Missão Cruls; atualmente Parque Nacional de Brasília] e o Paranoá.

Esses dois locais delimitavam — a leste e noroeste — a área preferida por Cruls e Glaziou para a construção da futura capital [e onde, de fato, veio a ser construída]. Mas estavam a 40 km de sua base de trabalho, o arraial de Mestre d'Armas [Planaltina], onde àquela altura os caminhões ainda eram esperados. É possível que essa distância extra tenha pesado na sua decisão, diante da falta de tempo.

Os caminhões chegaram na manhã do dia 5, e nessa mesma manhã o engº Balduíno escolheu um local bem mais próximo: um promontório sobre o vale do rio São Bartolomeu, a apenas 8 km de Mestre d'Armas. Batizou o local de "serra da Independência"; e aos dois morros ali existentes atribuiu os nomes de "Centenário" e "7 de Setembro":

« Pois bem, no morro do Centenário decidi, bem ou mal, na manhã de 5 de setembro, colocar a pedra básica da futura capital da República. »

Às 17 horas do dia 5, todo o material dos caminhões já estava descarregado no morro do Centenário. No dia 7, às 10 horas, estava pronto o monumento que tinha de ser inaugurado exatamente ao meio-dia — segundo a letra da lei, inscrita em bronze na placa afixada à face oeste do marco:

« Sendo Presidente da República o Exmº Sr. Dr. Epitácio da Silva Pessoa, em cumprimento ao disposto no Decreto 4.494, de 18 de janeiro de 1922, foi aqui colocada em 7 de setembro de 1922, ao meio-dia, a Pedra Fundamental da futura Capital Federal dos Estados Unidos do Brasil. »

Bandinha e champanhe

A descrição do evento e a lista dos participantes dão a dimensão do outro lado do trabalho necessário ao engº Balduíno Almeida para cumprir à risca a missão recebida em cima da hora — a organização do “evento”:

« No momento em que o sol atravessava o meridiano, ao meio-dia de 7 de setembro de 1922, o engº Balduíno Ernesto de Almeida, responsável pela missão e representante do governo federal, começa a içar a Bandeira Nacional ao som do Hino Nacional executado pela bandinha de Planaltina, acompanhada de marcha batida pelos clarins do 6º Batalhão de Caçadores aquartelado em Ipameri, perante autoridades [locais] e representantes, e uma centena de outras pessoas da região que foram ao local, em cavalhada. » [Adirson Vasconcelos]

O lançamento da pedra fundamental de Brasília no centenário da independência
O evento solene [cf. Adirson Vasconcelos]

A palavra "representantes" define bem o status do local e do evento.

Balduíno, diretor da Estrada de Ferro Goiás, com sede em Araguari (MG), representava o presidente da República, Epitácio Pessoa, por ordem do ministro da Viação, transmitida por telegrama do inspetor-geral das Estradas de Ferro, Palhano de Jesus.

O segundo orador, Arthur Povoa, discursou em nome do presidente do Estado de Goiás, coronel Eugênio Jardim.

Em seguida, falou o deputado estadual Evangelino Meirelles, representante "3 em 1" do Congresso estadual (Camara e Senado de Goiás) e do deputado federal Americano do Brazil, autor do projeto de lei que determinava o lançamento da pedra fundamental. Este último fez a delegação por telegrama do Rio de Janeiro.

De corpo presente, discursou apenas o intendente municipal de Formosa, Francisco Hugo Lobo; e compareceram Salviano Monteiro Guimarães e Nicolau Silva, autoridades em Mestre d'Armas [Planaltina] e Santa Luzia [Luziânia]; além do juiz de direito Henrique Itiberê, de Formosa.

   
O engenheiro Balduíno junto à pedra fundamental de Brasília
O engº Balduíno, ao final da missão impossível
[cf. Adirson Vasconcelos]

A Câmara dos Deputados se fez representar pelo engº Aldo de Azevedo [possivelmente da Estrada de Ferro Goiás].

O ministro da Guerra, Pandiá Calógeras, foi representado pelo major Adelino de Guaycurus Piranema [possivelmente aquartelado em Ipameri (GO)].

O outro autor do projeto, deputado federal (pelo Maranhão) Rodrigues Machado, pediu por telegrama que o jornalista Germires Reis [Zelmires Reis, cf. AH2:27-28], de Santa Luzia [Luziânia], o representasse na solenidade.

A imprensa do Rio de Janeiro e de todos os demais Estados foi "representada" unicamente pelo jornalista Pedroso Pimentel, enviado especial de A Noite, do Rio de Janeiro. Devido às "dificuldades para a emissão de despachos telegráficos", só 4 dias mais tarde foi publicada sua primeira matéria.

As imagens foram feitas pelo « fotógrafo Plínio (que acompanhou o engº Balduíno) ».

A ata do evento solene foi ditada pelo engº Balduíno e escrita simultaneamente em 3 originais pelo major Adelino Guaycurus Piranema e pelos engenheiros Alvaro Cardoso de Mello e Edgard Peixoto Guimarães, auxiliares de Balduíno na Estrada de Ferro Goyaz.

Ao final, foi servida uma taça de champanhe.

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