Memória candanga
1959: Pacheco Fernandes
O ano de 1959
No princípio era o verbo, depois a chacina da Pacheco Fernandes
Dantas
Um cão andaluz sem osso, sem nada
No acampamento da Pacheco Fernandes Limitada
Um candango buscando a sorte no Cerrado
Escapando da miséria, da pobreza do Sertão
Ontem mesmo fiz um samba, batucada, rock
n’ roll e vídeo-clipe de encomenda
Pra pior televisão
Despertando o gosto cluber-ciber-musical da maior agência
corrosiva e popular de
Uma nação
Se antes era por justa necessidade,
hoje a terra custa o quanto for o teu prestígio eleitoral
no comércio do populismo, no show do comício, popularidade.
Vila Planalto
Perdida Vila Amauri
A nossa Atlântida do Centro-Oeste
Quantas vidas lutaram por ti!(Honestino Guimarães)
Os candangos são... Conterrâneos
Velhos de Guerra
E todo povo revoltado contra a velha ordem mundial...
Os candangos são... Conterrâneos Velhos de Guerra
E todo forte nordestino-brasileiro batalhador...
Os candangos são... Conterrâneos Velhos de Guerra
E toda população nativa periférica...
Os candangos são... Conterrâneos Velhos de Guerra...
A banda
Antes de tudo, o porquê do nome Pacheco
Fernandes. Em 1959, um ano antes da inauguração
da nova Capital Federal, operários da Construtora
Pacheco Fernandes Dantas Ltda, devido à péssima
condição da comida e aos maus-tratos a que estavam
sujeitos, iniciaram o que poderíamos identificar como a
primeira manifestação social em defesa dos direitos
trabalhistas em Brasília, reivindicando melhores condições
no acampamento da Construtora. Durante o Carnaval, a água
foi cortada para que os operários não tomassem banho,
impedindo-os de se divertirem na zona de cabarés da Cidade
Livre.
No sábado de Carnaval, a gota d’água. Os operários,
hoje chamados de Candangos, jogam a comida estragada no pátio
do alojamento, e inicia-se o massacre. Policiais do Governo, recrutados
entre os mais grotescos e violentos homens da região (GEB),
chegam ao alojamento atirando de maneira covarde e brutal. Na
época, os jornais no Brasil anunciaram oficialmente apenas
uma morte, mas populares que assistiram ao massacre ou que dele
escaparam afirmam com toda convicção que ocorreram
mais de cem mortes, além de feridos.
No filme, Conterrâneos Velhos de Guerra,
de Vladimir Carvalho, este massacre é abordado e nele há
também uma entrevista com o arquiteto Oscar Niemeyer e
o urbanista Lúcio Costa, que negaram a todo custo a existência
do massacre, mesmo com a divulgação do episódio
realizada pelos jornais da época. E o pior, ao ser perguntado
insistentemente por Vladimir a respeito de sua reação
caso tivesse sabido do massacre na época, Lúcio
Costa disse que “Não teria dado a menor importância.
Nenhuma. Isso são episódios. Do ponto de vista da
construção da cidade, isso são episódios,
não tem a menor importância”, revelando com essas
palavras que a História oficial da humanidade é
a história dos chamados “heróis”, daqueles que representam
a ordem estabelecida, enquanto aqueles que verdadeiramente ergueram
as civilizações são relegados ao esquecimento
total.
Pacheco Fernandes simboliza a luta do
povo brasileiro pela sobrevivência, pela busca de sua identidade.
É o grito de desespero, mas também de revolta contra
as injustiças entre os homens. É difícil
condicionar a banda a uma única proposta, no entanto, podemos
dizer que pretendemos, entre outras coisas, criar uma “arqueologia-sócio-musical”
resgatando a história viva de nossa cidade, de modo à
inter-relacionar o microcosmos (Distrito Federal) e o macrocosmos
(Universo).
Formada no ano de 2001, a Pacheco Fernandes
se propõe a fazer um som atual, próprio e com elementos
que mesclem a musicalidade brasileira com as diversas linguagens
musicais, tais como o rap, a música eletrônica, o
rock alternativo etc. Como todo processo musical conectado com
o mundo, somos uma banda em constante transformação
e, como nunca é demais lembrar, estamos interessados em
produzir um som próprio e à altura da importante
tradição musical brasileira.
Pacheco Fernandes é:
César d’Paula
(violão e voz)
Marcelo Pitty (bateria e percussão)
Adriano Silva (contrabaixo)
Júnior Cabeleira (guitarras)
Pacheco Fernandes por Vladimir Carvalho (Cineasta)
“Com imaginação, sonoridade renovada e sensível
interpretação de seus temas preferidos, a surpreendente
banda ‘Pacheco Fernandes’ dá um recado absolutamente competente.
Sintonizada com o que tem caracterizado o movimento do rock e
do rap situado nas periferias das grandes cidades, mantém
intenso diálogo com o seu meio. Mas, sobretudo, surge já
pronta, dotada de uma excepcional personalidade musical, num campo
sujeito a saturação como é o do rock.
O grupo é uma junção feliz num jogo harmonioso
de guitarras, percussão e bateria que dá gosto de
ouvir, principalmente pela valorização do forte
sentido poético das letras contundentes das músicas.
É altamente gratificante ouvi-los.”
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