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Cia. Mogiana de Estradas de Ferro, 1963
Há 91 anos iniciava-se a construção
da Estrada de Ferro Mogiana
Campinas. Correio Popular, 1º Dez. 1963
A Companhia Mogiana de Estradas de Ferro foi organizada em 1872 (...), nos
termos da lei provincial nº 18, de 21 de março de 1872.
A mesma lei concedia ainda privilégio para prolongamento da linha acima
até as margens do rio Grande, passando por Casa Branca e Franca.
(...) iniciando a construção da ferrovia no dia 2 de dezembro,
com a colocação solene da primeira estaca, sendo inaugurado o primeiro
trecho no dia 27 de agosto de 1875, com a presença do imperador Pedro II.
(...) constituiu-se como a via de penetração nos Estados de S.
Paulo, Minas Gerais e Goiás, que hoje compreendem as ricas zonas de Campinas,
Ribeirão Preto, Franca, Ituverava, Igarapava, Uberaba, Uberlândia
e Araguari.
Na época, era o transporte ferroviário o único capaz de
vencer as longas distâncias com segurança, economia e rapidez, possibilitando
assim o escoamento de grandes massas dentro destas características.
A ferrovia não tinha, por assim dizer, concorrentes, já que os
meios de transporte existentes, os tradicionais veículos de tração
animal, somente poderiam atender economicamente ao deslocamento de pequenas massas
a curtas distâncias.
Conseqüentemente, as possibilidades de desenvolvimento de uma zona estavam
estreitamente ligadas à chegada dos trilhos ferroviários (...).
Como a ferrovia era construída para servir zonas ainda em formação,
as expectativas de transportes não poderiam ser, de início, super-estimadas,
donde a conveniência econômica de se reduzirem a um mínimo
as despesas de primeiro estabelecimento na sua construção.
Proceder, na época, de forma diferente, procurando inverter capitais
vultosos no empreendimento, seria destiná-lo a fracasso certo.
Primeiro, pela exigüidade de disponibilidade no país e, depois,
pela falta do que transportar em volumes que possibilitassem justa compensação
aos investimentos, todos a exigir, de pronto, satisfatória remuneração.
Assim, a Mogiana, como as demais ferrovias de penetração, foi
construída em condições técnicas que hoje se nos afiguram
precárias, embora na época fosse o melhor que se poderia fazer em
termos econômicos, de forma a possibilitar o desenvolvimento de vasta região.
Tão vasta região, hoje servida pela Mogiana, e que por ela foi
exclusivamente formada, bem atesta o acerto dos idealizadores e construtores dessa
ferrovia, levando-a até as linhas de Goiás, em traçado econômico,
então perfeitamente defensável.
Passam-se os tempos, a zona Mogiana se desenvolve, aumenta consideravelmente
a sua produção agrícola e industrial, formando-se núcleos
populacionais, tudo a exigir, num crescendo, transporte ferroviário mais
adequado. As suas antigas condições técnicas de traçado
tornam-na, de todo, obsoleta, incompatível ao emprego das grandes, pesadas
e velozes composições. Em conseqüência, a exploração
da ferrovia passou a ser anti-econômica em face das crescentes necessidades
das regiões por ela servidas.
Torna-se, pois, imprescindível que o seu antigo traçado, bom
para a época de sua construção, seja agora integralmente
revisto.
Retificação do traçado
Eis porque, já em 1942, criou-se uma Comissão de Estudos para
revisão completa do traçado da Mogiana, em toda a sua extensão,
de Campinas a Araguari. A mesma, tendo em vista as condições econômicas
da zona, prováveis disponibilidades e, ao mesmo tempo, a topografia do
terreno, fixou as seguintes condições técnicas para a revisão
que se impunha:
Trecho |
Rampa máxima |
Raio mínimo |
Campinas - Ribeirão Preto |
0,5% |
572,99 m |
Ribeirão Preto - Uberaba |
1,0% |
572,99 m |
Uberaba - Araguari |
1,5% |
250,00 m |
Nas condições deste programa, já foram executadas as
seguintes variantes:
-
Variante Lagoa Branca - Tambaú, entre os km 147 e 196
do Tronco, na extensão de 49 km, com 0,6% de rampa máxima e 600
m de raio mínimo;
-
Variante Bento Quirino - Ribeirão Preto, entre os km
251 e 305 (km 314 da linha antiga) do Tronco, na extensão de 54 km, com
0,6% de rampa máxima e 700 m de raio mínimo.
Ao todo, 103 km apenas, comparados com os 700 km que separam Campinas de Araguari,
à míngua de recursos adequados ao vulto do empreendimento. Urge
agora que se procure recuperar o tempo perdido, tanto mais que o governo do Estado,
maior acionista da Mogiana, deseja proporcionar recursos financeiros para completa
recuperação do transporte sobre trilhos.
Material rodante e de tração
Ainda a partir daquela data, a direção da Mogiana, visando a
possibilitar um melhor atendimento das demandas sempre crescentes de transporte,
fez as seguintes aquisições:
-
750 vagões metálicos cobertos para lotação
de 36 t
-
260 gôndolas metálicas para lotação
de 36 t
-
2 vagões-plataforma, rebaixados, para 50 t
-
42 carros metálicos de passageiros, construídos
em suas oficinas
-
30 locomotivas diesel-elétricas GM, modelo G12, B-B,
com 75 t de peso e 1.425 / 1.310 HP
-
23 locomotivas diesel-elétricas GM, modelo GL8, B-B,
com 60 t de peso e 950 / 875 HP
-
12 locomotivas diesel-elétricas, tipo C-C, com 64 t de
peso e 660 / 600 HP
Reflorestamento
Com a finalidade precípua de prover com recursos próprios as
suas necessidades de dormentes, cuja aquisição se agrava de ano
para ano em conseqüência da devastação das reservas florestais
circunvizinhas, iniciou também a Mogiana em terras de sua propriedade a
plantação de eucaliptos citriodora, para a produção
de dormentes, cujo número se eleva presentemente a 2.300.000 pés.
(...)
Construção de Brasília
O rápido desenvolvimento das vastas regiões do Brasil central
e a mudança do Distrito Federal para o planalto goiano com a construção
de Brasília, a nova capital do País, impóem a intensificação
do programa de renovação e reaparelhamento da Companhia Mogiana
a fim de colocá-la, o mais rapidamente possível, em condições
de atender a um edificante transporte de passageiros e intenso movimento de mercadorias
entre aquele centro e a capital paulista.
De fato, a linha Tronco da Mogiana entre Campinas e Araguari constitui a via
férrea natural e de menor desenvolvimento ligando São Paulo e Santos
a Brasília, por via de seus entroncamentos em Campinas com a Companhia
Paulista de Estradas de Ferro e com a Estrada de Ferro Sorocabana e, em Araguari,
com a Estrada de Ferro Goiás, de cuja estação Pires do Rio
tem início a ligação ferroviária Pires do Rio - Brasília,
em construção pelo Departamento Nacional de Estradas de Ferro.
Em reunião havida em São Paulo em dias do mês de março
último, com a presença do sr. ministro da Viação e
Obras Públicas, do sr. governador do Estado de São Paulo, do sr.
secretário dos Transportes, diretores das ferrovias do Estado e demais
autoridades, o Grupo de Trabalho constituído
com elementos da Companhia Paulista de Estradas de Ferro e Companhia Mogiana de
Estradas de Ferro para opinar sobre a ligação ferroviária
mais viável entre Santos, São Paulo e Brasília, reconheceu
em Protocolo assinado na ocasião que a ligação
mais conveniente seria feita através das linhas da Sorocabana, Mogiana
e Goiás em bitola métrica, ou pelas linhas da Santos a Jundiaí,
Paulista, Mogiana e Goiás, com baldeação em Campinas.
Recomendou-se, outrossim, que a Mogiana e a Goiás, com este objetivo,
intensificassem a revisão dos seus traçados, prevendo o futuro alargamento
da bitola para 1,60 m.
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