O novo pátio de Ribeirão Preto: alongado e desimpedido [Fonte: publicidade do governo Montoro, nos anos 80. Cortesia: Márcio Hipólito]
Cia. Mogiana e o Plano de Metas de JK
Novos pátios e estações
Flavio R. Cavalcanti
Simultaneamente, pátios e estações estavam sendo
refeitos e/ou readequados para o aumento na capacidade de transporte de
cargas — e na qualidade do transporte de passageiros.
Pátios mais longos e/ou em maior número são providência elementar para a ampliação da capacidade de uma ferrovia, em conjunto com o melhoramento da geometria e da qualidade da via principal. O alongamento possibilita a formação e cruzamento de trens mais longos, enquanto o maior número de pátios permite o trânsito simultâneo (e cruzamento) de maior número de trens ao longo da linha.
Providências semelhantes estavam sendo implantadas em várias outras ferrovias, no período 1956-1960, independente de terem, ou não, relação com a nova capital em construção no planalto central. No caso da Rede Mineira de Viação (RMV), o acompanhamento pessoal do presidente fez com que ficassem registros muito claros do andamento de cada item do programa.
A propósito do antigo pátio da Mogiana em Ribeirão Preto, e de um ponto de vista meramente ferreomodelístico o engenheiro Celso Frateschi resumiu em 1979 algumas características que explicam sua inadequação aos novos tempos:
Não se trata de um projeto moderno, que seria um pouco diferente. Este, já demolido, é o da estação da antiga Mogiana em Ribeirão Preto. Porém sua característica é mais favorável para maquetes, pois possui mais "movimento" do que um páteo moderno, onde dominam uma certa simetria e um "quadradismo" às vezes exagerado [Para quem começou agora, Informativo Frateschi nº 3, 1979].
Em outro texto, comparando diferentes desenhos de pátios ferroviários, o engenheiro Celso Frateschi voltou a descrever resumidamente algumas características do antigo pátio de Ribeirão Preto:
Construído no século passado [XIX], viveu o tempo do vapor, dos carros e vagões de madeira, dos truques Arch-Bar, até o aparecimento das primeiras G-12 e GL-8. Alojava trens curtos, possibilitando apenas o tráfego de veículos de pequena carga por eixo.
(...)
O contraste [com o pátio moderno de Paulínia] é evidente.
Este, totalmente reto, capaz de receber trens com até 100 vagões com fluxo de tráfego simplificado ao máximo. Sua geometria é igualmente longilínea tendo-se evitado linhas espalhadas para manobra, a não ser em algum ramal industrial. O anterior [Ribeirão Preto antigo] apresentando traços evidentes de um crescimento espalhado, com manobras difíceis, tendo-se que, muitas vezes, alterar a posição da locomotiva de manobra, ou trabalhando-se com duas manobreiras, para o mesmo trem [Pátios e estações, II parte, Informativo Frateschi nº 38, 1985].
No projeto do novo pátio de Ribeirão Preto, observa-se um planejamento
semelhante ao do futuro pátio
de Brasília, reservando espaço para instalação
anexa de indústrias e armazéns com ramais integrados, de modo a racionalizar as operações, tanto para a ferrovia quanto para as empresas:
Dentro de seu programa, a Mogiana iniciou este ano um
plano de remodelação de grande número de suas estações,
aumentando-lhes a plataforma e criando condições de maior
conforto para os passageiros, com salas de espera, instalações
sanitárias e outras conveniências para o público.
O programa da Mogiana, neste tópico, deverá estar concluído
no decorrer de 1960.
Em 1959 a Mogiana deu início à construção
de nova estação Ribeirão Preto e de seu pátio
ferroviário que será, provavelmente, o maior do Estado de
S. Paulo. Medirá ele dois quilômetros de extensão
por 600 metros de largura. Terá lateralmente uma área reservada
para armazéns e indústrias que necessitarem para suas operações
de chaves ferroviárias. [Trechos
do Relatório da Mogiana ref. 1959, cf. Estradas de Ferro do
Brasil, Revista Ferroviária, 1960]